Bebês e suas mães: como construir as bases de um apego seguro

Por Soninha Silva, enfermeira

Uma etapa importante da relação mãe-filho é a que coincide com a necessidade de sair daquela simbiose que caracteriza os primeiros tempos, quando o recém-nascido percebe o próprio corpo como um prolongamento da mãe, e essa ainda considera o bebê como parte de si. A interação dos primeiros tempos física e psicológica exerce um papel fundamental na sobrevivência da criança. Aos poucos, porém, a ligação inicial deve se transformar para dar ao filho a possibilidade de crescer, adquirir competências, segurança e uma identidade separada daquela da mãe.

Neste processo, um papel importante pode ser desenvolvido pelo pai (ou por outra pessoa significativa na vida do bebê) triangulando a relação, alargando os horizontes da criança e sustentando-a em sua necessidade de explorar o mundo e de encontrar nele o seu lugar. Também a mãe pode desenvolver esse papel de agente emancipador, nem tanto no plano racional, mas no emotivo, que o filho cresça e se separe dela para se tornar cada vez mais autônomo, capaz de enfrentar o mundo, de comunicar-se com pessoas diversas e de deixar emergir o self autêntico.

Bebês e suas mães - mãe sorri para a câmera com o bebê apoiado ao longo do braços
Pixabay/Divulgação/CSC
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De uma mãe, espera-se flexibilidade. Uma mãe deve aceitar que seu filho seja outro separado de si, que possa ter vontade e desejos diferentes dos seus, que possa cultivar também outros afetos e outras ligações. Para crescer, poder se comunicar e não correr o risco de desenvolver um falso self – para satisfazer totalmente as expectativas dos outros, na origem de sua figura primária de apego – o filho deve se diferenciar da mãe. Se forem idênticos, um se reflete no outro, mas filho não chega a reconhecer os estados emotivos separados daquela com quem está em simbiose. O excesso de proximidade impede a perspectiva. Os sentimentos se fundem e se confundem. O filho se sente seguro, forte e potente somente no espaço primordial, fora dele, é indefeso e pequeno.

Para dar os primeiros passos em direção a uma existência autônoma, a criança deve também ouvir a mãe, ou alguém que esteja fora da relação simbiótica originária, falar de si. Em seguida terá de perceber que a mãe confia nela e está contente que cresça. Se não conseguir sair do abraço simbiótico, continuará a ser o bebê da mamãe, mesmo na idade adulta.

Terrível é a mãe monopolizadora e superprotetora que se oferece totalmente ao filho e o substitui para poupá-lo de qualquer confronto com o mundo, por menor que seja. Esse tipo de mãe se elege fortaleza impenetrável, sentinela que vigia todos os desejos de sua criança. Encerra o filho e uma felicidade perfeita e acredita ser a única pessoa capaz de cuidar dele. Uma criança criada dessa maneira, no entanto, quer sempre mais, torna-se insaciável, e, fechada em uma espécie de círculo narcisista, não tolera a menor frustração, qualquer obstáculo que se interponha à realização de seus desejos. Incapaz de enfrentar as dificuldades normais, terá crises de choro à menor recusa. Logo será um tirano doméstico e, no lugar das trocas afetivas, aparecerão as lutas de poder.

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