Crescem ataques e invasões racistas na internet em Santa Catarina

Pessoas e instituições do estado que debatem sobre direitos humanos e etnias têm sofrido ataques racistas

Por Évelyn Cazão

Nesta sexta-feira, 20 de novembro, é comemorado o Dia Nacional da Consciência Negra no Brasil. A data foi definida em referência a morte de Zumbi dos Palmares, grande símbolo da luta pela liberdade e valorização do povo afro-brasileiro.

Busto de Zumbi dos Palmares em Brasília.
Busto de Zumbi dos Palmares em Brasília – Divulgação/CSC

Neste ano, em período de pandemia da Covid-19, atos racistas têm ganhado força na internet, como aconteceu na última segunda-feira (16), quando hackers invadiram um debate virtual do Conselho Estadual de Direitos Humanos (CDEH) em Santa Catarina e dispararam ofensas preconceituosas.

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Segundo nota divulgada pelo conselho, a invasão o ocorreu durante uma reunião com membros de Criciúma que debatiam sobre a construção do plano decenal de direitos humanos. O evento era transmitido pelo canal do Youtube da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social, e foi interrompido pelas provocações racistas.

Reunião online do Conselho com 15 membros
Hackers invadem reunião virtual do CDEH. – Divulgação/CSC

O CEDH manifestou repúdio pela invasão e afirmou que todas as providências cabíveis foram realizadas “para apurar as responsabilidades, identificar e punir exemplarmente os responsáveis”.

“Essa demonstração de violência não é novidade. Grupos criminosos estão intensificando ações de intolerância, preconceito e disseminando ideais nazistas e de supremacia branca no Estado de Santa Catarina”, diz a nota.

Nesta semana, o Estado registrou mais um ato de preconceito racial, a primeira vereadora negra de Joinville, Ana Lúcia Martins (PT), eleita no último domingo (15), foi alvo de ataques e de ameaça de morte nas redes sociais. A Delegacia de Proteção a Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI), abriu inquérito policial a respeito do fato que envolveu a vereadora.

Vereadora de Joinville, Ana Lúcia Martins, de óculos, sorrindo e olhando para a direita
A vereadora eleita de Joinville Ana Lúcia Martins (PT), alvo de ameaças de morte e injúria racial – Facebook/Arquivo Pessoal/Divulgação/CSC

Nos último meses, pelo menos três casos de racismo chamaram a atenção em Joinville e região, o que evidencia a realidade vivida por toda população negra da cidade. Em 2019, 166 boletins de ocorrência por injúria racial foram registrados no município, número superado neste ano, com 168 registros até a primeira quinzena de novembro.

Em junho, o Instituto Comunitário Grande Florianópolis (Icom) promoveu um debate virtual que discutia o combate ao racismo e contava com mais de 70 participantes, mas a reunião também foi invadida e consequentemente interrompida por imagens de cabeças sendo cortadas, pedidos de morte e a figura de uma suástica.

A Polícia Civil de Santa Catarina informou também que, a respeito de invasão e ataque em live do Conselho dos Direitos Humanos, o caso está em investigação pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática da Diretoria Estadual de Investigações Criminais. Foi aberto Inquérito Policial. A investigação está em sigilo, conforme informações do Delegado de Polícia titular, Luis Felipe Rosado.

Debate da Fundação Badesc

Independente dos ataques, os debates sobre questões raciais e étnicas não vão parar e nem as pessoas vão se amedrontar diante das manifestações de ódio.

Na próxima quarta-feira, (25/11), por exemplo, a professora doutora Jamile Borges é a convidada do encontro virtual promovido pela Fundação Cultural Badesc. A partir das 19h30, a convidada vai falar sobre o tema pandemia, racismos e algoritmos discriminatórios. Jamile vai falar sobre como a injustiça e a desigualdade encontram meios para se disseminar e, como tal qual o vírus, tem alto poder de contágio.

Para acompanhar a transmissão, que será pela Plataforma Microsoft Teams, basta acessar o link: http://bit.ly/encontrosvirtuaisfcb no dia do encontro.

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