Empresa e governos avaliam futuro do Complexo Termoelétrico Jorge Lacerda

    A usina no sul do estado é responsável por 50% da estabilidade do sistema elétrico em Santa Catarina, está à venda e pode encerrar as atividades em 2025. Podemos ficar sem ela?

    Por Ana Ritti – redacao@correiosc.com.br

    O Complexo Termoelétrico Jorge Lacerda (CTJL), maior planta de energia termoelétrica da América Latina, segue com futuro indefinido. À venda e com a possibilidade de encerramento das atividades, os governos federal e estadual buscam soluções para manter as operações do complexo, que, ligado ao Sistema Interligado Nacional (SIN), fornece energia para atender cidades do sistema elétrico do sul do estado, Grande Florianópolis e outras partes do país.

    Inaugurado há 55 anos, o Complexo Termoelétrico Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo (na época ainda parte de Tubarão), surgiu para impulsionar o desenvolvimento industrial com a geração de energia e aproveitar o carvão mineral extraído das minas. Na década de 1950, o estado produzia anualmente cerca de 400 mil toneladas do carvão mineral.

    complexo de jorge lacerda visto em foto aérea; duas chaminés proeminentes
    O Complexo Termoelétrico Jorge Lacerda, no sul de SC, fornece 50% da potência para o sistema elétrico estadual e pode encerrar as atividades em 2025; governos avaliam o que fazer – Engie Brasil/Divulgação/CSC
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    O complexo foi privatizado em 1997 e hoje pertence à Engie, que desde 2017 adota estratégias de negócio no Brasil que incluem descarbonizar seu portfólio, a fim de reduzir emissões e investir em fontes renováveis. Desde então, a empresa negocia seus ativos movidos a carvão no país, mas explica, em nota, que as negociações não avançaram. Na mesa da multinacional estão colocadas opções para o futuro do CTJL, entre eles a venda e a busca de solução envolvendo o poder federal como, por exemplo, a devolução para a União, a venda para Eletrobras ou a mediação de negociações para um novo dono.

    Outra opção é o seu descomissionamento (desativação) de forma faseada. No caso do Complexo Jorge Lacerda, isso seria feito por partes, com desligamentos em dezembro de 2021, dezembro de 2023 e dezembro de 2025.

    Mas fica a dúvida: Santa Catarina pode ficar sem a energia à carvão de Jorge Lacerda? Os órgãos do setor – como o Ministério de Minas e Energia, Operador Nacional do Sistema Elétrico, Agência Nacional de Energia Elétrica – dizem que sim, ainda que CTJL seja uma perna que sustente 50% da demanda energética catarinense indiretamente.

    SC depende de duas usinas

    Assim como todos os estados, Santa Catarina é conectada ao SIN, o que significa que a energia elétrica consumida aqui pode vir de empreendimentos de geração de energia situados no próprio território, de usinas situadas na região sul ou até de outras regiões do país, como Itaipu.

    O CTJL, junto com a usina hidrelétrica de Campos Novos, são as únicas unidades geradoras de Santa Catarina conectadas à Rede Básica do SIN que possuem função sistêmica, isto é, possuem ampla capacidade de regulação da rede, sendo que cada uma é responsável por cerca de 50% dessa potência instalada; sem a usina de Jorge Lacerda, portanto, mesmo que haja disponibilidade de energia na rede vinda de outras partes, a estabilidade elétrica pode ser comprometida em SC. Outro ponto é que em caso de escassez de chuvas a termoelétrica pode garantir o fornecimento de energia elétrica, apesar da poluição.

    Grupos de trabalho e possível encerramento

    Em palestra na Fiesc na última sexta-feira (18/12), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou que um grupo de trabalho vai analisar o futuro do setor de carvão do sul do estado para apresentar diagnóstico e ações para um futuro sustentável da atividade. Além disso, ele anunciou um plano de incentivo à modernização da atividade de geração de energia a partir do carvão mineral, que prevê usinas mais modernas que CTJL para reaproveitamento de refugos do carvão.

    No mesmo evento, o governador Carlos Moisés (PSL) falou que um grupo de trabalho no âmbito estadual busca soluções para um futuro “sustentável” para a atividade. Com o fechamento, aproximadamente 20 mil empregos diretos no sul do estado seriam afetados, assim como a economia de cerca de quinze municípios da região, uma vez que dependem da cadeia mineradora que abastece o complexo termelétrico.

    Em resposta ao Correio, o Ministério de Minas e Energia reforça que um grupo de trabalho vai avaliar e buscar soluções para as atividades de geração termelétrica a carvão mineral e de mineração de carvão mineral em Santa Catarina, em articulação com os entes federativos, com agentes setoriais e com a sociedade. Sobre o possível fechamento, o ministério informa que “a energia produzida por esta usina poderia ser substituída pela energia produzida por outras usinas da Região Sul ou do Sistema Sudeste/Centro Oeste, que estão conectadas ao Sistema Interligado Nacional”.

    A resposta do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) vai no mesmo sentido. Responsável por monitorar o fornecimento de energia e gerir recursos energéticos no Brasil, o órgão informa que “na hipótese de haver indisponibilidade de uma unidade geradora a necessidade será suprida por outra, não havendo risco de suprimento elétrico para a população”.

    A grande parte do consumo de carvão do estado é a para o setor elétrico. Em 2019 a extração para produção de energia resultou em 2,4 milhões de toneladas brutas em SC. O estado possui reserva de carvão mineral calculada em cerca de 3,2 bilhões de toneladas do carvão hulha.

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