Internações de crianças com Covid aumentaram 588% em SC

    Campanha de imunização infantil é alvo de terrorismo político através de conteúdos mentirosos, que captam os mais suscetíveis

    Letalidade da Covid em Santa Catarina - respirador em uti
    Intubação de crianças não vacinadas tem sido mais frequente - Secom SC/Divugação/CSC

    As informações falsas sobre a vacina contra o coronavírus veiculadas para prejudicar diretamente a saúde das crianças têm efeito visível nas UTIs pediátricas.

    Somente nesse ano as equipes de saúde tiveram que enfrentam um aumento quase 6 vezes nos casos de internações de pequenos infectados com o coronavírus. A maioria não estava vacinada.

    Em relação aos casos graves – que necessitam de hospitalização – o aumento registrado foi de 588% em um comparativo entre os meses de janeiro e fevereiro de 2022 (275 internações), com os meses de novembro e dezembro de 2021 (40 internações).

    Publicidade

    Entre janeiro e fevereiro de 2022 foram confirmados 21.357 casos de Covid-19 em crianças, enquanto, antes da ômicron, o bimestre de novembro a dezembro teve 1.631 casos na mesma faixa etária.

    25% de cobertura vacinal

    Até essa quarta-feira (23/2), do total de 652 mil crianças catarinenses aptas a receber a vacina, pouco mais de 160.958 recebeu a primeira dose, o que representa uma cobertura vacinal de 25%.

    Algumas cidades, como Florianópolis, estão com o dobro desse índice, porém ainda aquém do ideal.

    “Pedimos que os pais e responsáveis fiquem atentos aos locais e datas de vacinação indicados pelos municípios e levem as crianças para vacinar. A vacina é a principal medida de prevenção contra a Covid-19 também para as crianças, sendo segura e eficaz”, fala o diretor da Dive, João Augusto Brancher Fuck.

    Todas as vacinas seguiram os protocolos exigidos pelos órgãos reguladores, passando pelas três fases de estudos clínicos, os quais atestaram sua segurança e eficácia. As vacinas também foram autorizadas para uso no território brasileiro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os protocolos de vacinação estão no Plano Nacional de Operacionalização (PNO) da Campanha de Vacinação contra a Covid-19 do Ministério da Saúde (MS).

    Ainda assim, as imagens e informações falsas compartilhadas na internet conseguem uma adesão maior do que a verdade.

    + Cerca de 30% da população de SC recebeu 3ª dose

    Terrorismo fantasioso

    A saúde das crianças continua sendo alvo de intensa campanha antivacina, com a edição de vídeos que dão a entender que as vacinas causam mal súbito. Para os usuários de mentiras não bastam os fatos concretos sobre imunologia: os vídeos das redes sociais falam muito mais alto.

    Para os mais suscetíveis aos engodos, as peças (vídeos ou imagens) editadas por criminosos são o suficiente para desacreditar campos inteiros da ciência e o esforço de milhares de técnicos e estudiosos em salvar vidas. Nenhuma narrativa antivacina é verificável na realidade, mas elas se sustentam na cabeça das pessoas porque são amparadas por narrativas mentirosas muito mais profundas, como planos mirabolantes mundiais que relacionam as vacinas com controles populacionais ou mutações genéticas.

    Leigos recebem as imagens e narrativas mentirosas – que procuram descolar do cunho político superficial para dar a entender que se trata de uma notícia apolítica – e passam a repetir mentiras, também para forçar que famílias não vacinem as crianças. Com esse efeito real, consideram que o que acreditam seja verdade, ainda que mais e mais crianças não vacinadas acabam sendo intubadas nos hospitais.

    Não é raro os usuários e repetidores de mentiras antivacina apresentarem comportamento violento, por exemplo quando confrontados com os dados, diante da incapacidade de compreender os fatos à luz da realidade distorcida. Esse comportamento é inclusive visto em diversos políticos próximos, como vereadores e deputados da Alesc. Passam a chamar os interlocutores de “assassinos-esquerdalhas-comunistas” caso alguém defenda a imunização infantil. Para os políticos o negacionismo têm sido benéfico porque lhes dão visibilidade, não importando se estão errados.

    Os criminosos criadores dos conteúdos falsos têm conseguido o objetivo de enganar pais e mães para que não vacinem seus filhos e, assim, conseguem matar crianças com a ausência da vacinação. O principal argumento é que o perigo seria receber a proteção biológica, e não o vírus que matou mais de 648 mil pessoas no Brasil. Uma das mentiras contadas é que “está provado” que a vacina altera o DNA e faz com que a pessoa não seja mais considerada humana. Então, qualquer morte pós-vacina é um trunfo para a vertente anticiência enquanto os dados concretos são completamente ignorados.

    Com a inversão dos fatos – isto é, a criação de uma fantasia completa – os criminosos conseguem aumentar a quantidade de crianças internadas e consequentemente mortas.

    Até agora 45 crianças que moravam em SC morreram por complicações da Covid, cinco nesse ano. No bimestre anterior à chegada da ômicron não houve morte registrada.

    Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br

    Publicidade
    COMPARTILHAR