Investigação do caso Nicolas aponta para esquema de tráfico de crianças

Bebê foi encontrado em São Paulo com duas pessoas que não eram adotantes; segundo delegada a mãe foi aliciada durante dois anos

A Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina (SSP-SC) concedeu entrevista coletiva nesta terça-feira (9/5) a respeito do caso de rapto de um bebê de 2 anos em São José, encontrado no dia anterior na cidade de São Paulo. As autoridades envolvidas buscam ainda descobrir todos os envolvidos no caso, que pode apontar para um esquema maior de tráfico de crianças.

Nicolas foi encontrado após grande mobilização integrada de forças de segurança, a partir da investigação na SSP-SC, que monitorou um carro com placas adulteradas que partiu de São José para a capital paulista. Paralelamente a Polícia Científica também conseguiu acessar o celular da mãe e descobrir mais informações que apontassem a localização. Alertada, a Polícia Militar de São Paulo fez a abordagem ao carro no bairro Tatuapé, resgatando o menino. No carro havia um homem (identificado pelo portal UOL como Marcelo Valverde) e uma mulher (identificada como Roberta Porfírio), que inicialmente disseram ser um casal, mas, segundo o delegado-geral da Polícia Civil de SC, Ulisses Gabriel, não era o caso: tratava-se de um aliciador e uma mulher encarregada de uma guarda provisória (ilegal) do bebê, para entregá-lo a uma família adotante.

Marcelo e Roberta foram presos por tráfico de pessoas e a PC descobriu que foram essas duas pessoas que vieram buscar Nicolas em São José no dia 30 de abril, data do desaparecimento, com um Creta branco. As autoridades só foram alertadas na última sexta (5), por outros familiares da criança, uma vez que mãe tinha tentado suicídio e ficou dias na UTI sem conseguir dar informações sobre quem teria ficado com seu filho. As buscas efetivamente pelo menino duraram menos de 4 dias, apesar do desaparecimento ter sido de 9 dias.

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A partir da prisão do homem e da mulher houve a compreensão de que o caso é um problema ainda maior, que pode desvendar uma rede de tráfico de pessoas. Valverde inclusive já é investigado por sequestro de criança. Segundo o delegado-geral da PCSC, os dois iam em direção ao Fórum de São Paulo para uma audiência marcada com um juiz para confirmar que seriam adotantes da criança. Segundo Gabriel foi o juiz chamou os dois para apresentar a documentação da criança após contato inicial do suspeito com a justiça, quando ele supostamente teria visto a repercussão nacional do caso. As prisões foram cumpridas no Fórum e imediatamente a justiça estadual paulista determinou o encaminhamento do menino para acolhimento no Conselho Tutelar. Segundo o secretário da SSP-SC, Paulo Cezar Ramos de Oliveira, depois do inquérito vai poder se auferir se há uma rede de tráfico de crianças.

Segundo a delegada responsável pelo caso, Sandra Mara Pereira, da Dpcami de São José, a investigação já descobriu que a mãe de Nicolas, que tem 22 anos, foi assediada durante dois anos para que entregasse a criança numa espécie de adoção forçada. “A mulher estava sensível. Vamos ainda verificar se houve algum tipo de violência ou pagamento envolvido”, disse a delegada, que acrescentou que a mãe tem grande fragilidade psicológica e que também nega ter recebido para entregar o bebê. A mãe teria conhecido Marcelo Valverde, o aliciador, em um grupo on-line após a gravidez. Somente após concluída a investigação os todos os crimes poderão ser tipificados.

O delegado-geral também acrescentou que outros indivíduos envolvidos no caso já foram identificados – “provavelmente quem ficaria com a criança”, segundo o delegado-geral de SC – e que estão na mira da investigação da Dpcami de São José.

No momento o pequeno Nicolas está sob a jurisdição do Poder Judiciário de São Paulo, que irá definir o destino da criança. A expectativa, segundo Oliveira, é que o menino seja logo devolvido aos familiares em Santa Catarina.

Vídeo mostra o momento da abordagem

Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br

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