Um leilão judicial pode encerrar uma das falências mais antigas e complexas do setor madeireiro em Santa Catarina. Avaliados em mais de R$ 20 milhões, os imóveis pertencem à Rauen Industrial Madeireira. A empresa, durante décadas, simbolizou o desenvolvimento econômico do norte catarinense.
Como resultado de anos de tramitação, a primeira etapa do leilão começa no dia 8 de agosto. O processo será totalmente online, por meio da plataforma Positivo Leilões. Dessa forma, amplia-se o acesso ao certame.
O objetivo principal é arrecadar recursos para quitar um passivo superior a R$ 37 milhões. Por esse motivo, a prioridade será o pagamento dos ex-funcionários, que aguardam há décadas pela regularização de seus direitos.
Detalhes dos imóveis leiloados
Ao todo, quatro lotes serão leiloados. Dois deles são imóveis urbanos, enquanto os outros dois ficam em área rural. Juntos, somam valores expressivos.
Entre os urbanos, destaca-se uma área de mais de 207 mil m², com lance inicial de R$ 15,6 milhões. Além disso, há um terreno de 10 mil m², avaliado em R$ 1,5 milhão. Ambos estão localizados no bairro Jardim América, próximo à Rodovia Régis Bittencourt. Por esse motivo, são considerados ideais para projetos imobiliários.
No setor rural, há uma propriedade de quase 25 hectares voltada à produção agrícola. Ela está situada perto do km 153 da Rodovia Governador Luiz Henrique da Silveira. O lance inicial é de R$ 2 milhões. Por fim, será leiloada uma área de mais de 31 hectares, destinada à preservação ambiental, avaliada em R$ 972 mil.
De acordo com o leiloeiro Erick Soares Teles, o mercado demonstra forte interesse. Até o momento, 21 interessados já se habilitaram na plataforma. “São ativos raros, com grande potencial e excelente localização. Isso explica o grande interesse na disputa”, afirma.
Além disso, ele destaca as possibilidades de uso. “Essas áreas oferecem uma gama de alternativas. Desde novos empreendimentos imobiliários até a expansão de atividades agrícolas ou projetos de preservação ambiental.”
Administração quer encerrar processo e reparar trabalhadores
Segundo a administradora judicial Giovanna Vieira Portugal Macedo, o leilão representa um avanço importante. “Queremos que a venda desses bens seja bem-sucedida. Assim, será possível pagar os credores que aguardam desde 1995, principalmente os trabalhadores”, explica.
Desde então, ela afirma que a equipe atua com esse foco. “Trabalhamos para encerrar o processo o quanto antes. A intenção é que os valores arrecadados quitem, de fato, essas dívidas.”
Para a juíza Aline Mendes de Godoy, da Vara de Falências e Recuperações de Concórdia (SC), a conclusão do processo tem peso simbólico e prático. “A possibilidade de conclusão mostra a importância das varas especializadas. Elas trouxeram ao Judiciário mais eficiência e celeridade.”
Além disso, ela destaca o impacto social. “Após décadas de trâmites e desafios, a realização do leilão representa o cumprimento da legislação. Mais do que isso, é uma resposta concreta à sociedade e aos credores que esperam há anos.”
Do auge à falência: a trajetória de uma empresa símbolo do Norte Catarinense
A Rauen Industrial Madeireira foi fundada por José Alfredo Rauen. Nos anos 1970 e 1980, a empresa se destacou no setor madeireiro do Norte de Santa Catarina. Atuava com serraria, laminados, compensados, beneficiamento, móveis e bobinas para cabos.
Durante seu auge, a Rauen Industrial Madeireira chegou a empregar cerca de 600 pessoas. Além disso, contribuiu diretamente para o crescimento urbano no entorno de Mafra.
No entanto, em 1995, iniciou uma fase difícil. Disputas judiciais e problemas financeiros levaram à concordata preventiva, hoje chamada recuperação judicial. Em 2005, a falência foi decretada.
Desde esse momento, o processo passou por diversas mudanças legais e administrativas. Por isso, tornou-se um dos casos mais emblemáticos do Judiciário catarinense.