Nova adutora no Rio Cubatão deve garantir água na Grande Florianópolis por cinco anos

    Usos da água, porém, vão além do abastecimento público

    canos de adutora ao lado do rio cubatão em meio à vegetação
    Nova adutora da Casan no Rio Cubatão vai garantir o abastecimento no período, mas exigirá muito do rio, além da captação para outros usos. Depois de seis anos será necessário estabelecer outras fontes para não faltar água na região metropolitana - Casan/Divulgação/CSC

    Passada uma das piores estiagens da história da região metropolitana de Florianópolis, o cenário futuro não é tão promissor. Diante do aumento populacional, da degradação das margens dos principais mananciais que abastecem os municípios e das diversas necessidades além do abastecimento público, a estimativa é de que haverá um problema sério para não faltar o principal recurso natural na região.

    Atualmente a Grande Florianópolis tem mais de 1 milhão de habitantes. Um estudo da ONU, publicado em 2016, diz que essa será a região metropolitana que mais crescerá em todo o Brasil: 145% de 1990 a 2025, atingindo 1,233 milhão de pessoas na metade da próxima década.

    Hoje, cerca de 700 mil pessoas são abastecidas pela bacia hidrográfica do Rio Cubatão, nas cidades de São José, Palhoça, Biguaçu, Santo Amaro da Imperatriz e as regiões continental e central de Florianópolis. Para 2025 esse número poderá estar em torno de 850 mil. Tudo isso significa a necessidade de mais água.

    Nova adutora
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    A Casan trabalha com um projeto para aumentar a captação de água no Rio Cubatão (também chamado de Cubatão do Sul, para diferenciar de outros cursos homônimos no país), o que deverá assegurar o abastecimento na Grande Florianópolis por mais cinco anos ou seis anos. Após, será necessário estabelecer novo plano, isso porque se alcançará cerca 27% captação da vazão média do rio, de 11 mil l/s no inverno.

    Atualmente há retirada média de 900 litros por segundo e a nova adutora permitirá uma sucção de até 3 mil l/s. A tubulação terá 462 metros de extensão e 1.200mm de diâmetro, ligando o flocodecantador no Morro dos Quadros, em Palhoça, às duas caixas d’água no pé da inclinação. Segundo a companhia, a obra fará com que se reduza a dependência do Rio Vargem do Braço (ou Pilões), responsável por 60% da captação, que é mais sensível às intermitências de chuvas e ao fenômeno da estiagem.

    O Cubatão é alimentado pelo Vargem do Braço e outros seis grandes afluentes. Na margem sul, se beneficiam da água que escorre das montanhas do Parque da Serra do Tabuleiro. A companhia projeta que o total de até 5.000 litros/segundo (com os 2,1 mil l/s captados no Vargem do Braço) será suficiente pelos próximos cinco anos, quando novas formas de captação deverão ser encontradas.

    Estiagem

    Quando a estiagem desse ano estava dando seus ares críticos, a Casan convocou coletiva de imprensa para explicar a ação pontual de diminuir o impacto da seca. O plano foi o mesmo: aumentar emergencialmente a captação no Cubatão para garantir o abastecimento na Grande Florianópolis. Na ocasião da coletiva, um dos engenheiros foi questionado a respeito do futuro – o que fazer para não se faltar água? – e respondeu que poderia se pensar em transpor o Rio Tijucas, 50 quilômetros ao norte, para garantir o abastecimento na região metropolitana da capital. A informação passou batida e oficialmente a Casan diz que essa hipótese não existe.

    Com a captação cada vez mais próxima do limite no Rio Cubatão, todas as possibilidades na próxima década inevitavelmente começarão a ser aventadas. Só que obras desse porte só acontecem após longos embates, que iniciam nos comitês de bacias, o que é uma disputa política. Uma transposição em menor escala, requisitada pelo município de Bombinhas do Rio Tijucas, resultou em grande cisma no comitê há cerca de três anos. Evidentemente ninguém quer abrir mão de um recurso precioso como a água.

    O plano de recursos hídricos da bacia do Rio Cubatão e adjacentes mostra que o cenário é preocupante para a próxima década. Nas projeções qualiquantitativas há poucas opções. Um curso que atravessa a Grande Florianópolis e que abastece a região é o Rio Maruim, mas a estimativa é de que em 2031 esteja cada vez mais poluído, praticamente inutilizável.

    Outros abastecimentos

    O Rio Cubatão não é utilizado somente para o abastecimento público. De acordo com uma das etapas do plano de recursos hídricos da bacia do Rio Cubatão, realizada em 2017, a irrigação para agricultura, criação animal, mineração e indústria, entre outros, são responsáveis por 112 pontos de captação de água, dos quais apenas 58 são aprovados. No Rio Cubatão, antes da captação de água da Casan e onde será instalada a nova adutora, há quatro pontos de captação de água para mineração aprovados. Há também o pedido de instalação de três pequenas centrais hidrelétricas no rio.

    Esses usos de agricultura irrigada, a produção de energia elétrica, a mineração e a indústria são elencados no plano de recursos hídricos como potencialmente maiores geradores de conflitos pelo uso da água do Rio Cubatão antes do abastecimento público.

    O fato é que o Rio Cubatão chegará a um limite de “serviço” à população da Grande Florianópolis, que precisará também aprender a racionalizar e usar de forma consciente a água, não apenas em período de estiagem. A capital é uma das cidades com maior taxa de consumo de água por habitante, de acordo com o plano de recursos hídricos. Já a Casan diz que esse número é de 200 litros por dia por habitante em toda a região.

    Uso por município
    Município Consumo médio per capita de água (L/hab./dia)
    Águas Mornas* 120,0
    Florianópolis 178,2
    Garopaba 180,9
    Palhoça 155,1
    Paulo Lopes* 120
    Santo Amaro da Imperatriz 120,0
    São José 148,3
    São Pedro de Alcântara* 120,0

    *valores mínimos considerados pelo plano de recursos hídricos

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