São José 268 anos: um pouco da história de março na cidade

Grupo de pessoas visto de cima passa por uma rua de praça, em foto preto e branco
Multidão acompanhou as comemorações dos 200 anos do município

Por Nini Machado

Março é um mês rico em datas comemorativas na história de São José. A principal é o dia 19, em que se festeja o aniversário da fundação da povoação que originou o atual munícipio. Segundo a  mais antiga tradição e citação em documentos, nesse dia, enviados pelo governador da capitania de Santa Catarina, Manoel Escudeiro Ferreira de Souza, 182 casais vindos das ilhas açorianas localizaram-se nestas terras e iniciaram uma povoação.

Desde longo tempo até recentemente, neste dia, feriado municipal, entre tantos festejos, o principal era a missa solene na matriz do Centro Histórico, seguida da procissão com a imagem do padroeiro. A missa solene com a presença das principais autoridades ainda faz parte da programação festiva. Entretanto, a procissão deixou de ser realizada há muito tempo. No ano em que comemoramos os 268 anos de fundação, lembramos apenas alguns fatos ocorridos em março e ligados a nossa história.

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Entre tantos, alguns merecem destaque. 11 de março de 1882 foi o dia de nascimento de João Otaviano do Nascimento Ramos. Poeta de destaque, foi o pioneiro da imprensa em nossa terra. Em 1896, com apenas 14 anos, redigiu e distribuiu o pequeno periódico “O SUL”, inteiramente manuscrito. Depois editou outro jornalzinho “A Pena”, ambos de pouca duração. Durante toda a vida, além da sua profissão de telegrafista, colaborou em diversos jornais de Santa Catarina, divulgando artigos e belas poesias. Juntamente com José Ferreira da Silva, outro grande nome do jornalismo e da literatura histórica catarinense, fundou em 1924, em Blumenau, o jornal “A Cidade”. Era filho de Marcolino do Nascimento Ramos, uma das grandes personalidades de história política, social e jurídica de São José.

Outra data é a de 16 de março. Nesse dia, em 1882, faleceu uma das mais notáveis figuras de São José. Luiz Ferreira do Nascimento Melo foi nome em primeira linha na política, na vida administrativa e social de São José. Foi vereador, deputado provincial e presidente (governador) da província de Santa Catarina. Entre a sua descendência está o grande músico João Adolpho Ferreira de Mello, patrono do teatro de São José. Seu nome até hoje engrandece e orgulha seus descendentes pelo seu legado de trabalho e dedicação à nossa terra.

Em 19 de março de 1852, portanto há 166 anos, chegou em São José a imagem do Senhor do Bom Fim. Encomendada na Bahia pelo padre Macário César de Alexandria e Souza, está depositada na sua capela no Centro Histórico, esta, uma verdadeira obra prima de arquitetura lusobrasileiro. A procissão em sua homenagem arrastava para São José verdadeira multidão de todos os cantos da região da Grande Florianópolis. Foi o verdadeiro símbolo da fé e religiosidade popular de São José. Atualmente não mais se realiza a procissão.

Em edital de 25 de março de 1893, a Câmara Municipal, a quem cabia a administração municipal, lançou um edital para propostas da iluminação pública, a querosene, com 25 lampiões. O espaço para a implantação dos mesmos iria da entrada da Ponta de Baixo até início de Campinas. O vencedor das propostas foi João Vieira Franco, o primeiro contratante da iluminação pública de São José nesta modalidade.

Em 19 de março de 1910, os padres franciscanos, que pastoreavam a paróquia de São José, fundaram “A Liga Josefense”. Sua finalidade, segundo os estatutos era tríplice: religioso, social e recreativo. Enquanto existiu, até 1923, a Liga desenvolveu extraordinária atividade, não só ligada aos assuntos da igreja, como cultural. Criou uma banda de música de grande prestígio, animando festas religiosas, cívicas e outras. Também por sua iniciativa tivemos o primeiro cinema em São José, no prédio do teatro, iniciando suas funções em 3 de novembro de 1912, com bons resultados até 1923, quando a Liga foi extinta.

No século XX, dois grandes acontecimentos deixaram em nossa história lembrança inapagável. A colonização alemã em Santa Catarina teve como núcleo pioneiro a colônia São Pedro de Alcântara, historicamente fundada em primeiro de março de 1829. O centenário de sua fundação teve uma programação intensa. Os festejos Iniciados em São Pedro de Alcântara prosseguiram no Centro Histórico, com a montagem de um grande parque de diversões e no teatro exposição de produtos diversos. A banda de música da “Sociedade Musical União Josefense” abrilhantou todo o evento, que teve concursos e outras atividades. Os festejos alusivos a este fato foram realizados durante o mês de novembro de 1929.

Mas o principal evento e sem dúvida o maior acontecimento foram as comemorações do segundo centenário de fundação de São José. A comissão organizadora foi incansável em apresentar uma programação a altura de tão magno e raro acontecimento. A programação no dia 18 de março incluiu alvorada com a banda de música, missa solene presidida por Dom Joaquim Domingues e Oliveira, Arcebispo de Florianópolis, abertura de exposição filatélica no Grupo Escolar “Francisco Tolentino”, tudo no período da manhã.

Entre as dezenas de autoridades, descendentes das grandes famílias e pessoas ligadas a São José convidadas para o acontecimento, uma mereceu especial destaque. Na época, a  personalidade catarinense mais em evidência por sua atuação na vida da igreja no Brasil era o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara, josefense de nascimento. O Rio de Janeiro, então capital da República, centro de toda a vida política, social e religiosa, tinha em Dom Jaime a atenção e respeito do Brasil por sua atividade equilibrada e sensata.

Foto preto e branco de procissão com homens à frente
Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, nascido em São José, Dom Jaime de Barros Câmara desfilou no Centro Histórico ao lado do governador Aderbal Ramos da Silva

Comissão da prefeitura municipal deslocou-se ao Rio de Janeiro para formalizar o convite para a vinda a sua terra natal. Entre tantas personalidades presentes e participantes, sem dúvida o centro de todas as atenções nestes memoráveis dias foi a sua pessoa.

A complementação das atividades do dia 18, no período da tarde, teve seu brilho pela recepção a Dom Jaime, seguida da procissão com a imagem de São José, levado sob o pálio, e ladeado por Dom Joaquim Domingues de Oliveira e por Frei Plácido Rohlf, OFM, pároco de São José. O dia culminou com uma sessão solene na Câmara Municipal e com uma grande queima de fogos de artifício, retreta, etc.

BICENTENÁRIO

Para o dia 19 de março, dia do aniversário de dois séculos, o programa foi intenso e brilhante. Constou de alvorada pela banda de música, recepção de autoridades, principalmente o governador do Estado Aderbal Ramos da Silva, ele também descendente de tronco familiar josefense, hasteamento da bandeira nacional no campo do Ipiranga, solene pontifical presidido por Dom Jaime de Barros Câmara, churrascada oferecida às autoridades e povo, na Carioca, para isso preparada e organizada com tablado, mesas, etc. Na parte da tarde, inaugurou-se o monumento comemorativo ao bicentenário, na praça da entrada do Centro Histórico. Mais tarde a praça foi desativada, e o monumento deslocado para a praça Hercílio Luz. Houve também desfile escolar com grande número de professores e estudantes.

Menina retira pano de monumento em uma praça, com pessoas no entorno
Na festa do bicentenário da cidade inauguração de um monumento na Praça Hercílio Luz

Para beleza e destaque, no Centro Histórico foram armados arcos comemorativos e decorativos, residências foram pintadas, limpeza geral de ruas, etc. Para memória do acontecimento, os jornais de Florianópolis divulgaram várias reportagens sobre fatos históricos de São José. A Associação Filatélica de SC editou um número especial destacando a nossa história, bem como a emissão de folha filatélica comemorativa, considerada a mais bonita já feita no Brasil.

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