Segurança agride cliente negro no supermercado Big e o acusa de formação de quadrilha

Segurança agride cliente negro: close em renan com pequeno machucado com sangue na bochecha esquerda; ele usa óculos e está com a camisa aberta
Renan Rodrigues registrou boletim de ocorrência por agressão no estabelecimento, que também acusa de racismo - Divulgação/CSC

Segurança agride Renan Rodrigues, 27 anos, que acusa o supermercado Big situado no Shopping Iguatemi de Florianópolis de racismo institucional após abordagem truculenta do funcionário.

Nesta terça-feira (7/1), Rodrigues, que é funcionário de uma loja do próprio shopping há mais de um ano, foi ao supermercado após o expediente para comprar cerveja. De acordo com seu relato publicado nas redes sociais, saiu sem comprar nada porque não encontrou o produto que queria, e iria procurar em outro supermercado. Então, um segurança o abordou, segurou de forma violenta pelo braço e o carregou de volta para a loja, o acusando de furto e formação de quadrilha.

A reportagem do Correio entrou em contato com Renan Rodrigues, que explicou: “Foi um caso de racismo. Ele me deu uma chave de pescoço, me arrastou para um corredor dentro do supermercado, dizendo que eu roubava e era parte de uma gangue. Dizia que tinha imagens minhas escondendo carne, mas não é verdade, deve ser de outra pessoa preta”, disse ao telefone.

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Rodrigues conta que nesta quarta-feira (8/1) foi à delegacia registrar boletim de ocorrência e ao Instituto Médico Legal fazer o exame de corpo de delito. Ele relata que foi agredido de diversas maneiras pelo segurança, teve bolsa e camisa rasgadas e só foi liberado após outros funcionários do supermercado aparecerem, afirmando que a abordagem foi equivocada e de decisão do segurança. Segundo Renan, o segurança, que trabalha para uma empresa terceirizada, foi afastado nesta quarta-feira (8) do serviço. Ele também afirma que sabe de mais relatos similares no estabelecimento, com seguranças seguindo e abordando pessoas negras.

O relato de Renan

Aquilo que eu só via notícias e ficava puto, aconteceu comigo. Hoje dia 07/01 fui acusado e agredido por um segurança do supermercado Big do Shopping Iguatemi, após um dia maravilhoso de trabalho, tudo que eu queria era beber uma cerveja, trabalho na loja Mundo Verde no terceiro piso do shopping, fechei a loja e fui até o supermercado escolher uma cerveja, como no big não tinha variedade de cervejas nas quais procurava, sai e estava indo até o Angeloni, que é do outro lado da rua, na saída fui abordado por um segurança, ele pediu pra eu acompanhar ele, eu disse não, e disse pra ele falar o que ele queria, e repeti, o que houve?! Ele me pegou pelo braço e falou pra eu guardar meu celular, tentei me esquivar pela esquerda e seguir meu rumo, ele me deu uma chave de pescoço, e me arrastou da entrada do supermercado até o fim, para onde ele queria me levar inicialmente e seila o que ele iria fazer comigo se eu fosse até lá de boas. Gritei, pedi socorro, por ajuda, minha bolsa arrebentou, caiu no chão, meu oculos, minhas coisas jogadas pelo chão do supermercado, rasgou minha roupa e nada dele tirar o braço de volta do meu pescoço e continuou a me arrastar, mesmo aos prantos, gritando por ajuda e socorro, ninguém fez nada, até o momento que chegou um cara X com um distintivo Y e falou pra ele parar, fui acusado de roubo, de formação de quadrilha, porque segundo o segurança já estou sendo observado a muito tempo, que eu escondendo produtos, para outras pessoas pegarem, que escondia carne, carneeeeeeeee (FAZ ANOS QUE NÃO COMO CARNE, IMAGINA ROUBAR UMA) carneeeeee, nunca em minha vida precisei roubar, muito menos imaginei passar por isso, não sabia nem como reagir, fui embranquecido minha vida toda e vivi nesse meio tentando me situar, sai de la com um rasgo no rosto sangrando, roupas rasgados, me sentindo envergonhado pelo dano e assédio moral no qual ele, aquela situação me causou, hoje eu bixa preta que sou, me amo, me aceito, tenho noção dos meus direitos, fui vítima de racismo e isso não vai ficar impune, porque hoje foi comigo, e amanhã não vai ser com outro preto.”

Contraponto

Em nota, a assessoria de comunicação do Big diz que lamenta o ocorrido, que afastou a empresa terceirizada e que estuda outras medidas.

O BIG informa que, assim que tomou conhecimento do ocorrido em nossa loja de Florianópolis (SC), interrompeu os serviços prestados pela equipe terceirizada da loja na qual o segurança envolvido trabalha e estuda outras medidas cabíveis com relação à empresa terceira. Repudiamos veementemente qualquer ato de desrespeito e violência em nossas lojas.

A empresa entrou em contato com o cliente que passou por essa lamentável situação, colocando-se à disposição para toda assistência necessária e reforça os sinceros pedidos de desculpas ao cliente.

O BIG enfatiza que são princípios fundamentais de sua atuação o respeito ao próximo e aos valores éticos e morais.

Outros casos

Hudson Pereira, que atua em movimentos negros na Grande Florianópolis, conta que o tipo de caso de racismo em estabelecimentos comerciais é muito comum. “Sempre sou perseguido em supermercado, até mesmo onde trabalho”, diz. Integrante do Batuk Freak, Hudson tem percebido que o aumento de casos de racismo na região faz com que haja uma necessidade dos movimentos sociais tomarem novos posicionamentos.

“Parece que o racismo está normalizado dentro das empresas. Felizmente eu trabalho em uma em que podemos discutir essas questões, mas na maioria dos departamentos de Recursos Humanos não tem pessoas negras e não tem quem queira discutir isso, e acaba havendo racismo dentro da própria empresa”, relata Pereira.

Em novembro, o TJ decidiu sobre três casos de racismo ocorridos em Florianópolis em situações distintas.

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