Val Medeiros esculpe à moda tradicional uma canoa de garapuvu

    O artista plástico Lourival Medeiros trabalha em uma peça que inicialmente pesava sete toneladas; a canoa de garapuvu ficará pronta para a próxima corrida de canoas à vela do Centro Histórico

    o grande tronco da árvore já em formato de canoa numa rua coberta de árvores
    Canoa de tronco de Garapuvu é esculpida de modo artesanal e registrado em livro pelo artista plástico Lourival Medeiros, no Beco da Carioca, em São José - Foto: Lucas Cervenka/CSC

    O artista plástico Lourival Medeiros resolveu moldar a maior peça de sua carreira. Desta vez, o material não é o barro na olaria, e sim a madeira de garapuvu para fazer uma canoa tradicional.

    Val, como é conhecido, já tinha a ideia de esculpir de modo artesanal uma canoa “de um pau só”, e alguns fatores o motivaram ao desafio.

    “Sempre pensei em fazer uma canoa de modo tradicional, mas a ideia melhorou quando pensei em registrar todo o passo a passo de como fazer, para no futuro quem quiser poderá ter uma orientação”, diz ele.

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    Sabendo de uma árvore já em estado final de vida na Enseada de Brito, em Palhoça, ele conseguiu a doação do tronco e decidiu que todo o processo será transformado em um livro, em projeto denominado “Com quantos paus se faz uma canoa”.

    O projeto é tocado entre quatro pessoas. Além de Val, executando a peça, três mestres canoeiros – figuras já rareadas no litoral catarinense – o orientam na confecção, falando sobre as dimensões e métodos de retirada de volume. Zico, da Costa da Lagoa, Seu Anselmo, da Enseada de Brito, e Neca, da Lagoa de Ibiraquera, são os mestres canoeiros remanescentes da região que dão dicas e detalhes para acertar a canoa.

    O progresso é registrado por dois fotógrafos – Nini Machado e Suzete Sandim – para depois virar o livro-manual, recheado de procedimentos, relatos de mestres canoeiros e também de quem usa as embarcações para pesca.

    O tronco chegou ao Beco da Carioca – Centro Histórico de São José, endereço da olaria de Val e local onde é feita a embarcação – em dezembro do ano passado, medindo 3,4 metros de circunferência, 6,5 metros de altura e pesando mais de 7 toneladas.

    Enxó e machado são as duas principais ferramentas que Val usa em seu trabalho. A dimensão final da canoa será de 98 centímetros de boca, 6,5 metros de comprimento e capacidade para até dois mastros. O modelo servirá para pesca e principalmente para o esporte da vela.

    lourival dentro da canoa com uma ferramenta de enxó levantada pronto para dar um golpe na madeira
    Trabalhando principalmente com o enxó, Val molda a canoa típica dos açorianos e recebe orientações de mestres canoeiros da região – Foto: Lucas Cervenka/CSC

    Val pretende terminar a embarcação para a 3ª Corrida de Canoa à Vela de São José, que acontecerá em 30 de março próximo, na praia do Centro Histórico.

    “A canoa é um patrimônio histórico do litoral, uma tradição antiga que tem origem com os indígenas, e que depois foi adaptada para os açorianos”, fala Val sobre a importância da embarcação na cultura e na história catarinense.

    Enquanto é entalhada, a peça está em exposição no local e, depois da corrida, será para o uso no mar propriamente.

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