Comissão de Saúde da assembleia debate a vacina Coronavac com representantes do Butantan

Imunizante ao Sars-Cov-2 tem desenvolvimento sino-brasileiro é alvo de polêmica sobre a parceria

Representantes do Instituto Butantan participaram da reunião promovida pela Comissão de Saúde da Alesc nesta quinta-feira (22/10) e apresentaram detalhes sobre a vacina Coronavac, imunizante contra o novo coronavírus produzido pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com a instituição brasileira. De acordo com o instituto, a vacina está pronta e 46 milhões de doses devem ser disponibilizadas no início do próximo ano no Brasil, com possibilidade de oferecer até 100 milhões de doses em 2021. O primeiro lote virá pronto para utilização, e 13 mil voluntários brasileiros, da área da saúde, participam do estudo. A reunião foi promovida por proposição do deputado Dr. Vicente Caropreso (PSDB).

Pelo acordo com o laboratório Sinovac, o Butantan patrocinou a fase 3 dos estudos e receberá a transferência da tecnologia para produção da Coronovac no Brasil. Para isso, uma fábrica que estava fora de operação está sendo adaptada, num investimento de R$ 130 milhões.

O Instituto Butantan foi criado há 120 anos, um ano depois da Fiocruz, ambos com a finalidade de desenvolver terapias e soluções biológicas para a sociedade. O instituto fabrica 65% de todas as vacinas disponibilizadas no Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo o principal fornecedor do Ministério da Saúde.

Diferenciais da Coronavac

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Como proponente da reunião, o deputado Dr. Vicente explicou a preocupação sanitária com a vacina, justificando que o Butantan foi convidado por se tratar da instituição que está mais próxima de apresentar uma imunização eficiente contra o coronavírus. O parlamentar fez diversos questionamentos técnicos sobre a Coronavac, entre eles a previsão de efetividade da memória imunológica provocada pela vacina. Sobre isso, o diretor de Estratégia Institucional do Butantan, Raul Machado Neto, respondeu que ainda não há perspectiva, pois só será possível saber o tempo de duração da imunização com a continuidade dos estudos e o acompanhamento dos pacientes.

A vacina foi desenvolvida a partir do vírus inativado, que é uma técnica utilizada há 40 anos na produção de imunizantes. Na fase de estudos, 97% dos pacientes produziram anticorpos neutralizantes. A imunização consiste em duas doses com intervalo de 14 dias e os primeiros 9 mil voluntários no Brasil começaram a receber a vacina no final de julho. Outro diferencial  é que ela pode ser armazenada a uma temperatura de 2°C a 8°C, com garantia de estabilidade a uma temperatura de 37°C durante 28 dias, o que dá bastante flexibilidade para o transporte e a utilização do produto em todo o território brasileiro. “Outras vacinas, que utilizam adenovírus e RNA, precisam de tecnologia de ultracongelamento. Em alguns lugares do Brasil não existe nem freezer”, comparou o diretor do Butantan.

close em mãos de pessoa segurando caixa da vacina de covid-19 e uma dose fora da caixa
Coronavac tem produção sino-brasileira em parceria do Instituto Butantan com o instituto Sinovac; imunizante está na terceira fase de testes – Instituto Butantan/Divulgação/CSC

Sobre a necessidade de ser aplicada em duas doses, o diretor de Negócios, Cristiano Gonçalves, disse que a única vacina em fase de testes que não precisa de duas doses é a que está sendo desenvolvida pela Johnson & Johnson. Questionado ainda sobre porque os testes não são realizados na China, uma vez que foi lá que a Covid-19 surgiu, ele disse que não é possível realizar o estudo clínico na China porque o país tem uma quantidade muito pequena de casos. “As pessoas precisam entrar em contato com o vírus após a vacinação para a efetividade da testagem, o que não seria possível na China, onde quase não há vírus circulando, enquanto o Brasil vive uma situação de epidemia”, explicou. Pela mesma razão, os voluntários selecionados atuam na área da saúde – são as pessoas que estão mais expostas, assim é possível testar a eficácia mais rapidamente.

A polêmica com o governo

A deputada Ada de Luca (MDB) enfatizou que “ninguém deve politizar a vacina dos brasileiros” e questionou os representantes do instituto sobre os desdobramentos após a polêmica com o governo, já que o presidente anunciou que não comprará vacina chinesa. Os representantes do Instituto Butantan afirmaram que a principal estratégia continua sendo a negociação com o Ministério da Saúde para que a vacina possa ser distribuída a toda a população brasileira. Quanto ao fato de a vacina ser chinesa, Raul Machado Neto enfatizou que não é admissível a discriminação, até porque “todas as grandes fábricas de vacina do mundo estão sediadas na China”.

O presidente da comissão, deputado Neodi Saretta (PT), acrescentou que “a vacinação é importante, não apenas pela proteção individual, mas porque evita a propagação em massa de doenças que podem levar à morte e comprometer a saúde e a qualidade de vida das pessoas”.

O deputado Dr. Vicente finalizou agradecendo aos representantes do Instituto Butantan, “instituição que, juntamente com a Fiocruz, enobrece o país”. Ele enfatizou que, como médico e como pessoa do grupo de risco para a Covid-19, irá se submeter à primeira vacina que estiver disponível no país.

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