Sílvio Pléticos falece aos 95 anos

    Velório ocorre no CIC nesta terça-feira (10)

    pléticos usando boné gesticula conversando com um quadro seu ao lado
    Sílvio Pléticos, em 2014 - Ag. Alesc/Divulgação/CSC

    O artista plástico Silvio Pléticos faleceu nesta segunda-feira (9/3) aos 95 anos. Pléticos nasceu em maio de 1924 em Pula, na Croácia (na época Iugoslávia), e se radicou no Brasil após a Segunda Guerra Mundial. Viveu por cinco décadas em São José, onde se fixou na década de 1970 e foi sua última morada. Foi um dos primeiros moradores do bairro Bela Vista.

    Durante o conflito fez parte do exército iugoslavo de Tito, no qual desempenhou a função de ilustrador de murais informativos – uma das poucas opções de sobrevivência na época. Juntos aos demais colegas partizans, passou fome descomunal no frio e na austeridade da guerra e viu muitos de seus jovens correligionários sucumbirem pela fome.

    Também trabalhou em diversos lugares e desempenhou inúmeras funções: eletricista, encanador, pintor, professor, entre outros. Seu primeiro trabalho, aos 11 anos, sempre foi lembrado com satisfação. Ficou órfão desde criança e, junto ao irmão, foi criado em orfanatos, cuidados por freiras.

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    “Eu não me adaptava ao regime fechado das freiras e decidi ganhar a vida cedo. Encontrei trabalho numa confeitaria e dali em diante consegui sobreviver, sempre com a ajuda da pescaria: meu sustento físico e espiritual”, disse em entrevista à Agência Alesc em 2014, em ocasião de abertura de exposição em homenagem aos seus 90 anos.

    Depois do fim da guerra, continuou os estudo em Zagreb. Chegou ao Brasil em 1961 com a esposa Lili Janko Pléticos. Residiu em Ribeirão Preto (SP), Porto Alegre (RS) até chegar na Grande Florianópolis, onde morava até então.

    quadro de sílvio pléticos
    Divulgação/CSC

    O artista deu aulas de desenho e pintura no Museu de Arte de Santa Catarina (Masc) e fez diversas exposições em cidades brasileiras, italianas e na antiga Iugoslávia. Participou da Bienal Internacional de São Paulo em 1965, da 2ª Bienal das Artes Visuais de Porto Alegre, em 1972, e da Bienal Nacional de São Paulo em 1976. Em 1986 o Masc fez uma retrospectiva de sua obra.

    Pléticos era conhecido como o “artistas dos peixes”, o qual referenciava como um sustento – era dos peixes que lhe saciaram a fome nos períodos mais difíceis da vida que vinha a inspiração para pintar. Partindo desse elemento memorialístico, incorporava diversas cenas e muitas vezes as paisagens de São José e Florianópolis.

    “Passei fases muito tristes. Foram uma aula para a vida, mas esse negativo aumentou a possibilidade do positivo”, avalia Pléticos garantindo que, mesmo assim, são experiências que não mais gostaria de repetir. “Lembrando dá para chorar, mas foi aquela experiência que fez de mim um homem. Se eu tivesse tido pai e mãe, hoje estaria plantando batata no mesmo lugar onde nasci” – em entrevista para Agência Alesc, em 2014.

    O artista Plínio Verani, conta que Pléticos foi um grande mentor para uma geração de artistas brasileiros. Verani, também morador de São José, lembra de muitas histórias contadas por Pléticos. Uma delas era sobre a infância na Itália, quando era conhecido como “menino passarinho”, quando fugia do orfanato e ia viver nos forros das casas. Conseguia comida justamente pescando. Numa dessas vezes, desceu tão fundo para pegar um peixe e estourou um tímpano, o que o deixou surdo de um ouvido para sempre.

    Segundo a Academia Catarinense de Artes e Letras (Acla), da qual era membro emérito, a crítica dizia que Pléticos, ao deixar para trás um continente ainda marcado pela guerra, trouxe consigo o requinte da formação europeia e um senso estético apurado. “Guardou para a vida cotidiana a simplicidade do essencial, enquanto reservou toda a sofisticação para o espaço da tela”, diz sua biografia na Acla. Também era membro da Academia de Letras e Artes de Florianópolis, na qual ocupou a cadeira de número 15, cujo patrono é Ernesto Meyer Filho.

    Silvio Pléticos foi reconhecido cidadão honorário de São José e Florianópolis, ganhou as Medalhas do Mérito Anita Garibaldi e Cruz e Souza, em 1994 e 2001, entre outras honrarias.

    O artista estava desde sexta-feira (6) no Hospital Florianópolis e faleceu no final da tarde dessa segunda. Em 1º de maio completaria 96 anos. O velório será no Centro Integrado de Cultura (CIC) a partir das 8h desta terça-feira (10/3).

    Sílvio Pléticos jovem com peixe na mão e pincéis sorridente para a câmera
    O pintor e sua inspiração: o peixe – Arquivo Plínio Verani/Divulgação/CSC
    pléticos esculpindo em pedra
    Pléticos no 1º Simpósio em Pedra de São José, em 2016, no qual foi andando de sua casa – Plínio Verani/Divulgação/CSC
    grupo posando para foto com pléticos no meio na beira-mar de são josé
    No encontro de escultura em pedra de São José, com a esposa Lili, vice-prefeito e os participantes – Plínio Verani/Divulgação/CSC
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