Bombeiros repudiam ilação sobre uso de avião relacionado à morte de bebê em SC

Sem avaliação médica, deputado entende que condição de saúde de bebê foi agravada porque não houve transferência no primeiro pedido

O Corpo de Bombeiros Militar saiu em defesa do governador Carlos Moisés (Republicanos) e emitiu nota, nesta quarta-feira à noite (16/3), para repudiar a denúncia do deputado estadual Bruno Souza (Novo). A corporação detém o controle da aeronave Arcanjo 6 por meio do Batalhão de Operações Aéreas (BOA).

Segundo a ilação do deputado, o uso de um avião por parte do governador teria atrasado a transferência de um bebê recém-nascido internado em Lages e que a condição de saúde teria rapidamente deteriorado por falta da transferência para Joinville. Após a criança ser transportada acabou morrendo.

O governo do estado explicou que a criança tinha três dias de vida no primeiro pedido de transferência de UTIs Neonatais e já com o diagnóstico de cardiopatia congênita, uma das formas mais severas. A condição é uma má formação do coração da criança e que pode ocasionar a morte. Segundo a Secretaria de Saúde, quando solicitada a transferência, a criança não tinha condições suficientes de saturação para deslocamento de avião e, assim que teve estabilização, foi transferida para Joinville, onde acabou morrendo, em 16 de janeiro.

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O deputado acredita que se a criança tivesse sido transferida antes, no primeiro pedido (23h de 11 de janeiro), poderia ter sido salva e, assim, associa a morte ao uso do avião pelo governador. O parlamentar argumenta que Moisés e secretários não deveriam usar o avião dos Bombeiros/Samu.

Segundo o CBM, o “transporte aeromédico em Santa Catarina nunca esteve tão bem servido de equipes médicas e de aeronaves”. Na nota de esclarecimento os Bombeiros lembram que as aeronaves do batalhão aéreo atenderam, desde 2019, 3.290 vítimas em Santa Catarina, além de missões de resgate, transporte de órgãos para transplante e distribuição de vacinas para diferentes regiões do estado.

A frota atual do BOA é composta por dois helicópteros, o Arcanjo 1 e o Arcanjo 3, destinados a urgências e emergências, e dois aviões, Arcanjo 2 e Arcanjo 6, que realizam o transporte de pacientes já internados de um hospital para outro, mediante solicitação médica e agendamento. A frota também recebeu mais um avião nesse mês, um modelo Carajá igual ao Arcanjo 2, fruto de um pagamento de dívida da empresa Reunidas com o estado.

“Desde o início da gestão, em 2019, o governador Carlos Moisés disponibilizou para o transporte aeromédico o único avião que até então era utilizado pelo gabinete. Este veículo passou a ser denominado Arcanjo 02. Além disso, o Estado alugou um segundo avião (Arcanjo 06) para uso aeromédico. Assim, caso o primeiro esteja sendo utilizado para uma demanda específica ou em manutenção, o transporte de pacientes não será prejudicado”, afirma em nota o CBM.

Em relação à ocorrência de Lages, o Arcanjo 6 estava em uso pelo governador – o que é permitido – durante o dia 12 de janeiro. A alegação do deputado é que se houvesse a transferência nesse dia a criança poderia ter sido salva de uma condição cardiopática complexa. O Arcanjo 2 estava em manutenção naquele dia. Em 13 de janeiro a equipe do Arcanjo 6 esteve no hospital em Lages e avaliou que o quadro da criança não era estável suficiente para transferência, o que só ocorreu no dia 16 após consentimento da família ao risco e uma janela de estabilidade do bebê. A criança resistiu à transferência, mas acabou indo a óbito no Hospital Infantil de Joinville por causa da gravidade da doença.

O deputado havia anteriormente tentado associar o uso do avião Arcanjo 6 por Moisés a uma suposta falta de auxílio para deslocamento de uma criança que precisava ir de Caçador a Florianópolis, o que não se comprovou, uma vez que o paciente foi transferido. Na ocasião o governador foi a Brasília para assinar filiação partidária. Após um comentário na internet da mãe do bebê de Lages, o parlamentar pegou esse caso para dobrar a aposta contra o governador, associando a morte de uma criança à indisponibilidade do avião – o que somente uma prova de laudo médico poderia corroborar. O governo de Moisés afirma que a denúncia é uma mentira e que foi um uso sensacionalista e político de uma tragédia familiar.

O Corpo de Bombeiros lamenta as distorções e ilações em torno de um serviço de referência fundamental para salvar vidas, que segue à disposição, de forma ininterrupta, de todos os catarinenses”, finaliza nota do CBM.

Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br

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