“Se não houver a participação popular, não tem como administrar a cidade”, diz presidente do Psol-SJ

joão batista nunes falando; ele tem barba branca e usa óculos
João Batista Nunes, presidente do Psol de São José - Albano Aquino/CSC

O Psol tem grande expressão nacionalmente. Em Santa Catarina, porém, o partido ainda procura por seu lugar ao sol. Já teve cadeira na Alesc, mas hoje há pouca representatividade nas câmaras municipais. Perseverante, continua disputando os principais cargos eleitorais. Em São José não é diferente, onde o partido costuma lançar candidato a prefeito, o que deve se repetir no ano que vem.

O presidente do Psol em São José, João Batista Nunes, fala na série de entrevistas do Correio de Santa Catarina com os líderes das siglas municipais, que a principal bandeira do partido é a participação popular na aplicação dos recursos e que nunca houve um “choque de gestão” na administração da cidade.

Correio – Como está a organização do Psol em São José?
João Batista Nunes – Nós fizemos uma reunião há 15 dias e levantamos a possibilidade de listar nomes interessados a participarem do pleito, tanto a vereadores quanto a prefeito. Hoje a maior liderança que temos aqui em São José é o Rafael (Melo), que já foi por duas vezes candidato a prefeito. É professor do município, do sindicato, é natural daqui, um estudioso da realidade de São José, e nessa reunião a gente discutiu os tipos de alianças. Vários partidos nos procuraram, o PSB e o PDT por exemplo. Pretendemos fazer uma nova reunião ainda este ano para definir essas questões. No dia 30 terá uma reunião estadual do Psol onde vamos tirar diretrizes para esse processo. Será feita uma análise da situação estadual e vamos discutir a relação do Psol na questão das eleições municipais.

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Correio – Dessa reunião já sai o nome do candidato em São José?
João Batista – Não, o nome ainda não vamos ter. O que sai de lá são os princípios que o partido vai estabelecer para alianças e principalmente qual vai ser a intervenção do partido nos municípios dentro dessa situação que estamos vivendo hoje, porque essa legislação eleitoral atual, no meu ponto de vista acho interessante porque como impede aliança nas proporcionais, os partidos vão ter que disputar seus votos e mostrar seu tamanho. Claro que o Psol em São José é um partido pequeno, o que favorece é a expressão que tem a nível nacional, isso acaba verbalizando a nível municipal como São José.

Correio – O partido terá nominata de vereadores completa em 2020?
João Batista – Não sei. Nessa última reunião que fizemos, existe a possibilidade. Muitas pessoas estão nos procurando, pessoas que já militam na área social. Sem dúvida nós vamos participar do processo eleitoral, ou sozinho ou com alguém, o partido está organizado do ponto de vista legal.

Correio – O partido está crescendo em filiados?
João Batista – Está crescendo, mesmo sem a gente fazer efetivamente um trabalho de filiação, mas várias pessoas tem nos procurado.

Bandeiras do Psol-SJ

Correio – Para a eleição municipal é possível uma união dos partidos mais de esquerda para a majoritária?
João Batista – O professor Rafael participou de uma reunião dessas e discutimos essa possibilidade, mas nós vamos ouvir a executiva estadual. O partido tem sido procurado para alianças e a executiva estadual vai se posicionar sobre esse processo. Aqui na municipal tem uma certa convergência desde que se construa um projeto político para São José, porque uma das preocupações que o Psol tem é que faça alianças em cima de uma pauta política, do que a gente vai fazer, porque alianças em cima de nomes acabam iludindo o processo eleitoral. Quando você define uma pauta política, o nome nesse caso acaba sendo menos importante no sentido de qual pessoa vai encabeçar o processo. Claro que o nome tem que ter um certo conhecimento, uma capacidade de coordenação.

Correio – Quais as bandeiras que o Psol defende para São José?
João Batista – São José tem um problema sério no transporte coletivo, principalmente interbairros. A questão das comunidades, melhorar mais a saúde, ampliar os atendimentos na saúde, nas escolas, nas creches, essas pautas básicas. Desde 1990 o município cresce assustadoramente e precisa investir mais nessas áreas. Também o cuidado com os bairros. Se cuida muito do centro da cidade e se abandona os bairros. O partido tem uma sensibilidade muito grande pelo orçamento participativo, envolver a comunidade nesse debate. O processo democrático no Brasil é um processo de fachada. A democracia passa pela participação das pessoas. O debate no orçamento participativo acaba mostrando para a população os recursos que tem, qual a capacidade que o município tem para investir, envolver todas as organizações da sociedade civil para que participem do processo. Ainda temos uma cultura de participar somente os donos do poder, o povo ainda é excluído desse processo. Pretendemos contribuir no processo eleitoral, denunciar os problemas do município e apresentar alternativas e se for possível fazer uma aliança à esquerda dentro de um projeto político para São José.

Avaliação de São José

Correio – Qual a avaliação da gestão municipal?
João Batista – A minha avaliação é que São José é um continuísmo, nunca tivemos uma gestão mais à esquerda, mais democrática. A prefeita Adeliana participou de todos os últimos governos de São José, o vice- prefeito Neri Amaral também, e continuam com a mesma prática de asfalto, alguns investimentos em creches e postos de saúde, mas não há o envolvimento da sociedade. Eu vejo um continuísmo, o município continua com os mesmos problemas. Por exemplo o bairro Bela Vista, onde era uma região só residencial tem locais que tem comércio que eu acho que não está nem no plano diretor, não há um planejamento para isso. A cidade precisa discutir essa relação. Quando se constrói uma grande rede tem um grande investimento do município nas mudanças de ruas e isso não acontece em investimentos de áreas populares, nos bairros afastados.

Correio – E avaliação da câmara de vereadores?
João Batista – A câmara de vereadores tem o vereador do PDT que é quem faz alguma oposição, mas ainda não está como deveria. Vejo uma câmara extremamente comprometida com a administração municipal, não tem alguém que se destacou fazendo o debate do município. São José ainda não teve um choque de administração, um choque político. Tivemos o Battisti (PT), que na época conseguia fazer esse choque, ou o Dr. Geraldo, mas com a saída deles ficou muito igual a câmara de vereadores. O município tem que abrir espaço para a sociedade, não podemos jogar tudo só na conta do vereador. É muito poder em cima do vereador, o controle muito na mão deles e acaba virando os próximos na administração municipal. Se não houver a participação popular não tem como administrar a cidade, a câmara de vereadores acaba desaparecendo, o prefeito coloca todo mundo debaixo do braço do jeito que quer, então precisa ter participação da comunidade no processo. A zona azul foi correta, mas o problema é que esses recursos tem que ser discutidos para investir no transporte coletivo, investimentos que facilitem também a melhoria das vias públicas. Os recursos não são investidos como deveriam, por isso tem que ter uma participação da sociedade civil na aplicação. A experiência do Psol deverá contribuir. Como o Psol é um partido que saiu do próprio PT, temos pessoas com experiência na área administrativa e a preocupação do partido é isso: como envolver a comunidade nesse debate.

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