Hotel Caldas da Imperatriz evita leilão judicial e tem plano de recuperação da estatal

    Livre de leilão judicial, Hotel Caldas da Imperatriz tem plano de recuperação e pode voltar ao controle do município de Santo Amaro

    O Hotel Caldas do Imperatriz tinha leilão judicial marcado para 27 de julho por conta de dívidas com a União, mas não ocorreu. A Companhia Hidromineral Caldas da Imperatriz, detentora do hotel, conseguiu um acordo no final do prazo e evitou a penhora.

    Segundo a União, a empresa Companhia Hidromineral Caldas da Imperatriz, que atualmente é de propriedade do governo de Santa Catarina, tem duas inscrições de dívidas federais que somam R$ 4.036.871. O hotel iria à leilão por R$ 5 milhões para quitar a dívida.

    Primeiro a procuradoria geral do estado havia argumentado que a avaliação de R$ 5 milhões não correspondia ao preço de mercado do imóvel tombado como patrimônio histórico, o que não tinha sido aceito pela justiça federal para cancelar o leilão, que só foi suspenso com um acordo de parcelamento da dívida, em cerca de R$ 25 mil por mês.

    Prédio de entrada do hotel visto do alto com vegetação em volta
    Hotel é de propriedade de companhia estatal, que pode voltar ao controle municipal; o prédio foi construído em 1850 com ajuda da imperatriz Teresa Cristina e arrecadação com loterias – Hidrocaldas/Divulgação/CSC

    História de atração pelas águas quentes

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    Conhecido principalmente pelas águas termais de alta qualidade, o fontanário natural tem uma história de “batalha” justamente pelas fontes. Os mananciais entraram no conhecimento da corte portuguesa no início do Século XIX, que passou a tentar resguardar o local com tropas. Houveram lutas entre indígenas e soldados pelo controle das fontes.

    Já na época das primeiras décadas de 1800, havia a peregrinação das comunidades circunvizinhas ao local para o tratamento de doenças com a água morna. O local ainda era município de São José. A atração pelo local aumentou o interesse do império em controlar o acesso às fontes.

    Em ao apelo do governador catarinense João Vieira Tovar de Albuquerque, o Rei João VI fez baixar um decreto em 18 de março de 1818, determinando a construção de um hospital, o que é considerado a primeira lei de criação de uma Estância Termal no Brasil.

    Decorridos alguns anos, em 1835, através da Lei provincial nº 16 de 12 de maio, foi atribuída a execução do empreendimento, criado por Decreto Imperial, à Câmara Municipal de São José. A construção do hotel só foi possível através da realização de loterias para esse fim e com a doação por parte da Imperatriz – e daí o nome Caldas da Imperatriz.

    No período de construção, em outubro de 1845, as caldas receberam a visita do casal imperial D. Pedro II e Donas Teresa Cristina, que ali pernoitaram, conheceram as fontes e a qualidade das águas termais.

    A construção do prédio de 13 quartos e seis banheiras se prolongou por alguns anos. Em 1850 teve uma parte concluída e iniciada a sua ocupação em carácter precário até 1855, quando foram concluídas as instalações e montado o mobiliário. Nesse ano, já estavam instaladas as seis banheiras de mármore Carrara, existentes até hoje em condições perfeitas e em uso permanente.

    Recuperação e transferência

    Livre da liquidação judicial por ora, a diretoria foca em recuperar financeiramente o empreendimento, conhecido principalmente pela importância histórica e pelas fontes de águas termais. O presidente da Hidrocaldas, Renato José da Silva, explica que o hotel pode se sustentar sozinho e quitar suas dívidas.

    “Temos um plano de trabalho e saneamento da empresa junto com o município e governo estadual. Além de hospedagem, temos a casa de banhos, temos o fontanário e o parque aquático (esse fechado por causa da pandemia), ainda temos restaurante aberto de segunda a segunda para o público em geral, onde servimos almoço e café colonial”, informa o presidente.

    Segundo Silva, o trabalho é para que o Hotel Caldas da Imperatriz continue sempre sendo o símbolo e patrimônio cultural que representa tanto o povo de Santo Amaro, assim como todos os catarinenses.

    Há uma articulação política para que a companhia Hidrocaldas, como é conhecida, volte para o controle municipal. Hoje é propriedade do estado por conta da liquidação da antiga Codesc e, conforme explica a PGR, não há possibilidade de transferência para o município em ano eleitoral. O assunto deve ser também ponto de discussão política nas eleições municipais de novembro.

    Renato Silva diz que um dos motivos da comunidade santoamarense pedir a transferência da empresa é porque é uma identidade cultural da cidade. “É um aspecto cultural. A empresa sempre foi do município. Nos idos de 1978 era do estado e logo passou pro município. E em uma negociação que não deu certo o município acabou perdendo. Mas é um símbolo, por todo o contexto histórico é um patrimônio da comunidade santoamarense”. Há também questão tributária envolvida, já que o hotel tem dívida de INSS, que está sendo paga, informa Silva.

    Assim, o presidente pretende aumentar a arrecadação do estabelecimento melhorando os serviços de hospedagem e tornando o local mais atraente. “A diretoria da Hidrocaldas continuará sempre lutando para melhorar a qualidade do atendimento e recepção da comunidade”, finaliza Silva.

    O hotel é localizado no final da SC 432 – Rodovia Princesa Leopoldina, Km 4, Caldas da Imperatriz, em
    Santo Amaro da Imperatriz.

    Atualmente o litro de água no fontanário custa R$ 0,20.

    Por Lucas Cervenka - reportagem@correiosc.com.br
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