Prefeitura prevê amplo programa sanitário em Florianópolis

Projeto indica que prefeitura poderá fazer obras de esgoto dentro das residências

A crise ambiental e de saúde em Florianópolis relacionada à poluição da água do mar por esgoto (que ocorre também em boa parte do litoral norte de Santa Catarina) começa a resultar em ações do poder público. A capital catarinense é a cidade mais afetada em casos de virose e pelas águas sujas nos balneários mais famosos e, ainda neste ano, deverá passar por uma ação mais efetiva de correção da rede de esgoto, simultaneamente à ampliação.

O prefeito, Topázio Neto, anunciou nesta terça-feira (24/1), por rede social, a criação de um amplo programa sanitário em Florianópolis. Segundo o chefe do poder executivo local, nas próximas semanas será enviado à Câmara o projeto, denominado “Pacto por Floripa”, com foco em saneamento, contendo ações de ampliação da rede coletora, regularização e novidades em obras e cobrança.

Topázio afirma que a própria prefeitura fará obras de esgoto dentro das residências particulares e o custo será cobrado posteriormente na fatura. A cobrança será parcelada sem juros. A ideia é garantir que a ligação seja feita corretamente, já que historicamente muitas residências são construídas em desacordo com as normas e com os canos de esgoto bruto desembocando na rede pluvial, com destino à água do mar.

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O projeto permitirá que a prefeitura cadastre empresas para fazer as obras particulares dentro das casas, mediante autorização da pessoa responsável pelo imóvel, e, na prática, será uma forma do município financiar essas obras, resultando em longo prazo num cenário de imóveis de acordo com as regras. A ação não ocorrerá apenas em ruas com rede coletora de esgoto e envolverá também as regiões da cidade sem cobertura, como o sul da ilha, onde as casas são ligadas em fossas e sumidouros.

Ainda, segundo o anúncio do prefeito, haverá descontos nas faturas conforme ligações corretas e, inversamente, cobrança de multa (já existente) referente às ligações incorretas. Para isso mais programas de fiscalização de conexões domésticas de esgoto deverão ocorrer em Florianópolis, a exemplo do Trato pelo Capivari, na região de Ingleses, onde centenas de casas com esgoto despejado no rio foram encontradas. A fiscalização também irá abranger os bairros atualmente sem cobertura de rede de esgoto. Já os valores de descontos ou multas estão sendo calculados no futuro projeto. A ideia é que o aumento na conta de água e esgoto pague pelo desconto de quem está correto.

Inspeção do programa sanitário-ambiental em Florianópolis
Ponto nevrálgico é como as ligações de esgoto nos imóveis são construídas; posteriormente poder público precisa conferir se está correto – Foto: Tito Pereira/Se Liga Na Rede/Divulgação/CSC

Crise é estopim para mudanças

A crise ambiental com reflexos na saúde humana é um cenário de virose provocada por um vírus patogênico, responsável por surtos gastroentéricos e contraído por alimentos ou na água poluída do mar, configurando um ciclo feco-oral. Os dados apontam uma correlação bem localizada. No norte da ilha de Santa Catarina, por exemplo, houve milhares de casos de pessoas com quadro de diarreia aguda no início do ano, ao mesmo tempo que diversas praias não apresentam condições de mergulho por excesso de poluição – apesar do indicador de balneabilidade ser uma bactéria e o causador da diarreia um vírus.

Rio do Brás, em Canasvieiras
Rio do Brás, em Canasvieiras – Foto: Pedro Perez/PMF

As análises preliminares até agora apontam um tipo de Norovírus como causador da doença e que foi encontrado na água do Rio do Brás, em Canasvieiras, balneário completamente poluído nesse verão. É possível que muitos dos pacientes não tenham contraído o vírus na água do mar, mas é igualmente improvável que não haja uma relação entre a água imprópria e as infecções.

Opinião

Ao Correio SC, leitores enviam notas de indignação sobre o cenário de crise. Miguel Angel Cardozo, turista da Argentina, afirma: “A notícia se espalhou pela Argentina e Paraguai sobre o vírus e aqui no hospital nos fazem esperar horas só 3 médicos, atendem quando querem”.

O cenário de poluição gerando problemas de saúde não ocorre apenas na capital e não demanda ações apenas de prefeituras, mas envolve todo o poder público catarinense e, principalmente, a postura correta da população, afinal a sujeira no mar não é gerada por governos. Há moradores que deliberada e conscientemente jogam esgoto no ambiente. Não adianta reclamar que a praia está poluída se a parte de cada um não é feita de forma correta.

Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br

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