Cheiro de café

Moça vestindo blusa rosa e calça azul, sentada na calçada com a mão esquerda no cabelo
Amanda Marçal Rosa, 15 anos, estuda no Colégio Catarinense. Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

Tinha acordado cedo e a aula online ainda não tinha começado. Enquanto esperava a professora chegar, fui ver como estava o dia. Quando abri a janela, senti o cheiro de café passado. E aquele cheiro me trouxe muitas recordações dos meus avós. Lembrei-me da minha Vó paterna, e senti muita falta dela e das tardes que passávamos na sombra do muro jogando dominó, fazendo crochê e ouvindo as histórias da sua juventude, esperando a hora de tomarmos o café da tarde. Rememorei, também minha avó materna, e de como esperava ansiosamente pelas tardes que passávamos juntas “batendo canela” , como ela mesma dizia, e escolhendo uma nova cafeteira para tomarmos café com empada, programa que adorávamos fazer juntas. Não pude deixar de pensar no meu avô paterno, e de lembrar quando ia visita-lo no escritório, onde ele me oferecia uma xícara de “pretinho” bem quente e forte. E depois, senti falta do meu avô materno, de suas histórias de pescador e de seu jeito singular de fazer café solúvel. E essas memórias me fizeram perceber que durante toda essa loucura de Pandemia, os momentos dos quais mais sinto falta são os mais simples. Percebi que sinto falta de esperar pelo último sinal de sexta-feira, e de me alegrar em reencontrar meus amigos na segunda, de perguntar, no fim de cada manhã, quais eram as provas e tarefas do outro dia, de acordar em cima da hora e de me arrumar às pressas. Senti falta de pessoas que eu nem sabia que eram tão importantes para mim.

E toda essa reflexão me fez perceber que, no fim, é a soma de todos esses pequenos momentos, aparentemente insignificantes, que fazem de nós quem somos. Que todas as pessoas que estão ou já passaram por nossas vidas não vieram a toa, e não se foram por nada. Elas nos ajudaram a construir cada pequena parte de nós. Somos todos como uma imensa colcha de retalhos, em que cada pedacinho do tecido é formado por um momento vivido ou por uma pessoa que conhecemos.
Neste momento, a professora chegou e começou a aula, tirando-me de meu devaneio.

*Texto de Amanda Marçal Rosa, 15 anos estudante do Colégio Catarinense.

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