Violência e Saúde em pauta

homens de uniforme laranja trabalhando em chão de fábrica, com diversos maquinários
Foto: Secom/Divulgação

Acompanhei nesta semana a 2ª Mostra Laboral do Sistema Penitenciário Brasileiro, que encerrou na última quinta-feira, em Florianópolis. O evento concentrou-se em demonstrar as possibilidades de reeducação dos hóspedes do sistema carcerário, com iniciativas em diversas áreas, que vão desde artes plásticas e complementação de estudos até o trabalho formal, em parceria com empresas privadas.

É importante verificar que a nossa sociedade, através dos seus governantes, consegue enxergar que a violência não é um problema localizado, específico, mas sim resultado de condições desfavoráveis. É um efeito, majoritariamente, de deficiências estruturais da própria sociedade, a qual não consegue resolver a imensa desigualdade registrada no nosso país.

Resta, agora, desejar que estas intenções saiam do papel e constituam uma nova forma de enxergar o problema. Já que construir mais e mais presídios, definitivamente, não resolve a questão.

Epidemia
Publicidade

Os fatores que impulsionam a violência no Brasil são conhecidos: pobreza, baixa escolaridade, desigualdade social, abuso de drogas, desemprego, machismo, racismo e outros ismos, etc. Muitos desses fatores estão absolutamente fora do alcance da repressão policial. São de outra ordem, e só podem ser enfrentados se admitirmos que estamos diante de um problema de “saúde pública”.

Esse pensamento favorece o entendimento dos efeitos e das raízes da situação. É possível ver, pensando assim, que, além dos óbvios efeitos da violência (o trauma psicológico e as lesões físicas), o próprio comportamento violento é uma epidemia que se espalha de pessoa para pessoa.

Um dos principais indicadores de que alguém vai realizar um ato de violência é, em primeiro lugar, ser vítima de um. A ideia de que a violência se espalha entre as pessoas, reproduzindo-se e mudando as normas do grupo, explica por que uma localidade pode ver mais com atos violentos do que outra área com muitos dos mesmos problemas sociais.

O guia da Organização Mundial da Saúde sobre a prevenção da violência aponta que “a violência pode ser evitada e seu impacto reduzido, da mesma forma que os esforços de saúde pública impediram e reduziram complicações relacionadas à gravidez, lesões no local de trabalho, doenças infecciosas e doenças resultantes de alimentos e água contaminados em muitas partes do mundo.

Os fatores que contribuem para as respostas violentas — sejam eles fatores de atitude e comportamento ou relacionados a condições sociais, econômicas, políticas e culturais mais amplas – podem ser alterados ”. Essa alteração pode ser feita através de ações focadas em mudar o comportamento dos grupos sociais diante da violência, usando, em conjunto com a repressão das forças policiais, o trabalho de assistentes sociais, psicólogos e agentes comunitários, que agiriam no sentido de evitar a perpetuação e transmissão do comportamento violento, restaurando a paz e ajudando as pessoas a encontrarem saídas positivas para essas situações.

Mas em grande parte do mundo, e aqui no Brasil, obviamente, agir de forma dura contra o crime é o que rende votos, então essa recomendação é difícil de ‘vender’.

A esperança, no entanto, continua…

Publicidade
COMPARTILHAR