Mais prisões?

Fachada do portão principal de um centro prisional, com os logos do Deap
Foto: Deap

Ao decretar situação de emergência no sistema prisional catarinense, o governador Pinho Moreira conseguiu um cheque em branco para criar quase 1500 novas vagas em presídios e penitenciárias. No mesmo momento, criticou os municípios (São José entre eles) que não estão aceitando a construção de novas casas de detenção em seus territórios, preocupados com um possível aumento da violência urbana decorrente disso. Mas, será mesmo que a solução para lidar com a escalada do crime é construir mais cadeias?

Pausa para uma estorinha:
Um certo funcionário público, desses preguiçosos, que trabalham devagar, quase parando, vivia com sua mesa cheia de papéis e documentos que, diante da sua ineficiência no trabalho, iam formando pilhas cada vez maiores, até que começavam a cair para o chão.
Preocupado em manter o seu emprego (sabedor que era que manter uma mesa limpa e organizada, transmitindo uma imagem de eficácia, era mais importante do que ser mesmo bom naquilo que fazia), foi à sala do superior explicar a situação e fazer uma reivindicação:

– Meritíssimo (seu chefe era do Judiciário), não aguento mais tanto papel em cima da minha mesa. Não dou conta de despachar tudo. Enquanto resolvo o que fazer com um dos documentos, aparecem mais três. As pilhas estão crescendo e começando a cair da mesa…

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O juiz, sabedor das características não muito competentes do servidor, perguntou, irônico:
– E você quer ajuda? Quem sabe, um Red Bull para agitar o cérebro e trabalhar mais rápido? Uma Ritalina?

O empregado, então, retrucou:
– Não, senhor, preciso apenas de mais gavetas.

Sei que a violência é um dos maiores problemas que enfrentamos atualmente, mas, construir mais “gavetas” para guardar os bandidos que estão em cima da mesa não parece uma solução, apenas um paliativo. Enquanto isso, as iniciativas para aplicação de penas alternativas em crimes menos graves são pontuais e restritas.

Educar o criminoso, fazendo-o prestar serviços à sociedade, ao mesmo tempo em que o prepara para a reinserção no meio social, seria, certamente, o melhor caminho a seguir, deixando a cadeia disponível para traficantes, abusadores, homicidas e outros tão periculosos quanto. Educar os jovens, ajudando-os a integrarem-se à sociedade, pode evitar a necessidade de mais cadeias no futuro. Por mais iniciativas nesse sentido.

A ponte fica

O colegiado do TRF-4 anulou a decisão do juiz federal de Florianópolis, Marcelo Krás Borges, que determinava a demolição da ponte da Fortaleza da Barra, na Barra da Lagoa. O imbróglio se arrasta há anos, sem que a obra avance nem recue. Moradores preocupados com a preservação da natureza bucólica da região não querem a ponte nova, que daria acesso a barcos maiores à lagoa. Outros querem o contrário.

Enquanto não decidem, fica a situação surreal: meia ponte alta e interditada, outra meia ponte baixa e precária, sustentando todo o trânsito pesado que passa por ali. Já passou da hora de o povo parar de birra e encontrar o entendimento.

Uber e 99POP

A prefeitura de Florianópolis encaminhou revisão do projeto de regulamentação do transporte por aplicativos que pode complicar a vida de muitos motoristas, tanto os que utilizam carros pequenos, quanto os que moram em São José, Palhoça e Biguaçu.
Na proposta, que agora tramita nas comissões da Câmara Municipal de Vereadores da Capital, é exigido que os veículos sejam emplacados em Florianópolis e que tenham, no mínimo, 370 litros livres de espaço no porta-malas.
O problema é que a maioria, talvez perto de noventa por cento dos motoristas de aplicativos, usa carros populares do tipo hatch, com porta-malas pequeno, de cerca de 280 litros. Se a lei passar como está, vai obrigar estes profissionais a adquirir modelos sedan, ou então terão que abandonar o trabalho.

A outra questão, dos veículos emplacados fora da Capital, significará que um motorista de São José ou de Palhoça não poderá atender uma corrida até Florianópolis, pois, sem poder atuar lá, vai ser obrigado a voltar vazio, tomando prejuízo.
Isso tudo em um momento em que a crise econômica está empurrando cada vez mais gente para esta atividade, já que o desemprego atinge níveis alarmantes.

Só podemos imaginar que a proposta foi escrita por taxistas ou sob orientação destes, e que o prefeito Gean Loureiro não leu direito o projeto, antes do envio à câmara. Ou isso ou então a prefeitura não está em consonância com o que pensa a população, que apoia quase integralmente esta nova alternativa de transporte.

Porcalhada

A sujeira espalhada pelo chão e caindo no riacho nas proximidades do viaduto da Via Expressa no limite entre São José e Florianópolis denuncia que as ações no sentido de melhorar a situação dos moradores daquele ponto foram mesmo para inglês ver. Meses e anos se passam, mas a prefeitura de Florianópolis simplesmente ignora a possibilidade de colocar containers para que os catadores depositem os rejeitos da sua atividade.

Ora, senhores, já se sabe que convidar os viciados para tratamento, embora importante, tem pouco resultado. Encher o local de policiais também só funciona no momento. Depois que vão embora, tudo volta a ser como antes.

Então, por que não tentar um acordo? Deixe-se o pessoal trabalhar e circular, mas ofereça-se a eles alguma vantagem para que mantenham o local o mais limpo possível. Circulei por ali. Não tem nem mesmo uma lixeirinha comum na rua, para que a gente possa descartar algum pequeno lixo, quem dirá para que haja destino para centenas de quilos de sujeira por dia? Como cobrar cidadania se não se oferece o mínimo necessário?
Pensemos nisso.

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