Sem licitação, prefeitura de Florianópolis faz novo contrato com empresa de coleta de lixo

A empresa foi contratada em caráter emergencial, e sem licitação, em janeiro por um período que não deveria ultrapassar 180 dias, mas o prazo se encerrou em julho e o novo contrato foi realizado

caçambas de entulho da amazon fort instaladas no continente em florianópolis
A prefeitura de Florianópolis firmou um novo contrato emergencial para a coleta de lixo no continente com a terceirizada Amazon Fort, que desde janeiro atua na capital – PMF/Divulgação/CSC

A Prefeitura de Florianópolis firmou um novo contrato emergencial para a coleta de lixo no continente com a terceirizada Amazon Fort, que desde janeiro atua na capital. Na época, a empresa foi contratada sem licitação por um período que não deveria ultrapassar 180 dias, mas o prazo se encerrou em julho e o novo contrato da gestão de Gean Loureiro foi firmado com a companhia, também sem o processo licitatório. O contrato com a Amazon Fort já havia sido aditivado duas vezes em abril, em um intervalo de 10 dias (aqui e aqui).

Com mais atribuições e uma possível expansão para outras áreas, a empresa ganha espaço e acelera o processo de terceirização dos serviços da Comcap. A autorização para a terceirização foi dada pelos vereadores governistas da Câmara de Florianópolis em janeiro, com a tese de que o município precisava combater privilégios na autarquia.

O Tribunal de Contas do Estado (TCE/SC) está com dois processos em análise das possíveis irregularidade e a falta de transparência dos contratos emergenciais firmados em decorrência da reforma administrativa.

A relação do município com a Amazon Fort
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Na contratação de janeiro, as atribuições da Amazon Fort eram a prestação de serviços de coleta de resíduos domiciliares residenciais, comerciais e públicos, por R$175,10 por tonelada. Já o novo contrato amplia os serviços para: coleta de caixas estacionárias, de contêineres em pontos de entrega voluntária de vidro, de resíduos volumosos, de recicláveis secos e de orgânicos, além da coleta em servidões, travessas, regiões de morro e locais de difícil acesso. Com isso, o valor mensal chega a R$ 1.398.500,00 para o prazo de 180 dias ou “até que se conclua o processo licitatório”, como informa o texto do diário oficial de 4 de agosto (pg. 80).

Com a renovação em abril e novo contrato firmado em julho, os contratos emergenciais acabam tornando permanente o serviço que, no papel, seria temporário. Além disso, o processo é facilitado por meio da dispensa de licitação, que é um procedimento administrativo obrigatório na contratação de empresas. A primeira dispensa foi justificada pela emergência em meio à paralisação dos serviços da Comcap, em que os funcionários eram contrários ao pacote de mudanças proposto pelo prefeito Gean Loureiro (DEM) em janeiro. Os demais contratos ocorreram fora da greve e sem uma justificativa plausível da prefeitura para a emergência ou previsão de licitação. Recentemente a um canal de televisão, o secretário de Meio Ambiente, Fábio Braga, disse que o contrato de emergência se justifica pelo fato de haver funcionários em casa e precisar da reposição de força de trabalho.

A contratação da Amazon Fort gera polêmicas em relação a uma possível intenção de extinção da Comcap, que teve a exclusividade nos serviços retirada com a reforma administrativa. Antes mesmo da aprovação do pacote, a empresa já anunciava vagas para contratação de pessoal em Florianópolis, como apurou reportagem do portal Folha da Cidade. Hoje, a prefeitura não quer confirmar a expansão da atuação da terceirizada, mas publicações de vagas na Amazon Fort para moradores do Norte da Ilha indicam a possibilidade da empresa assumir a coleta da região, retirando mais um dos serviços da Comcap antes da realização de certame público para escolha.

Empresa que por enquanto só tem contrato no continente divulga vaga de trabalho que tem como requisito residir no Norte da Ilha – Facebook/Reprodução/Divulgação/CSC

Além disso, o serviço da Amazon Fort no continente ainda é motivo de reclamações de moradores (que pagam por tudo), como a pouca frequência de recolhimento do lixo e até que os caminhões não chegam em algumas ruas. A empresa ainda está envolvida em polêmicas em Rondônia, seu estado de origem, onde é investigada por suposto superfaturamento e irregularidades no serviço de pesagem de lixo.

O Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem) entrou em estado de greve na última semana contra a terceirização dos serviços da Comcap. Em nota, apontam que o contrato com a Amazon Fort “não tem justificativa” e que “ao terceirizar um serviço que a Comcap já tem pessoal e estrutura para realizar com qualidade, o prefeito faz a população pagar duas vezes pelo mesmo serviço”. O sindicato diversas vezes bate na tecla de que o valor pago à companhia privada não cobre de fato os custos da coleta seletiva da capital, que acaba precisando de reforço do pessoal da Comcap e desmonta, assim, a tese da prefeitura de que está economizando. O Sintrasem faz nova assembleia nesta quinta-feira (2/9).

Em junho, o TCE determinou a instauração de processo para análise de regularidade e a falta de transparência na contratação de terceirizadas em decorrência da reforma administrativa, aprovada em janeiro. Em 3 de agosto foi aprovada a ampliação da investigação com o processo 21/00452139. Por enquanto não há novidades do tribunal na verificação das possíveis irregularidades.

A prefeitura de Florianópolis não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Por Ana Ritti – redacao@correiosc.com.br

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