“A crise é uma oportunidade de mercado para algumas pessoas”, diz Moisés

    Baixa oferta e preços altos dificultam compras de insumos hospitalares contra pandemia, como respiradores e kits de testes para coronavírus, relatam o governador e o secretário da saúde

    moisés em coletiva com secretário e intérprete de libras de cada lado
    Zeferino, Moisés e a intérprete de Libras, na coletiva online -Reprodução/CSC

    Com a necessidade crescente de se testar cada vez mais a população para o novo coronavírus e, quando necessário, tratar os pacientes com Covid-19, Santa Catarina tem dificuldade para a compra dos insumos hospitalares diante da alta demanda e oferta reduzida. Dentre os equipamentos, estão os kits de testes para o novo coronavírus e os aparelhos para tratamento da doença.

    O governador, Carlos Moisés, e o secretário de Saúde, Helton Zeferino, externaram, na coletiva de imprensa desta sexta-feira (27/3), uma “outra batalha” que o governo tem que fazer para controlar a pandemia, que é a baixa oferta e os preços altos.

    Kits de testes

    Até o momento, segundo o secretário, apenas o laboratório de Bio-Manguinhos, da Fiocruz, é credenciado para fornecer os kits de testes do tipo RT-PCR a todos os Lacens (Laboratórios Centrais de Saúde Pública) do país. Outro laboratório, dos EUA, deve começar a fornecer os testes rápidos em abril para o Ministério da Saúde e estados.

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    Zeferino disse que há uma dificuldade de todos os atores do setor – laboratórios públicos e privados – em conseguir comprar os kits de testes.

    Correio: Qual a quantidade de kits de testes no estado e a perspectiva de recebimento de novos testes, seja por compra ou remessa do Ministério da Saúde?

    Zeferino: “Hoje os kits de testes que são disponibilizados pelo Ministério da Saúde, não conseguimos comprar através de outro fornecedor. Nós temos o laboratório de Manguinhos, que é quem fornece esses testes para o governo do estado. Eles têm centralizado essa produção. Entre hoje e amanhã nós receberemos novos insumos, por volta de 280 kits de análise. Temos alguma coisa conosco ainda em estoque. Isso também tem nos causado uma preocupação, até porque percebe-se que o Brasil tem aumentado exponencialmente a necessidade de kits. O Ministério da Saúde sinaliza que vai contratar um outro laboratório (americano), com maior capacidade operacional, pra fazer essa entrega”.

    Ainda na mesma resposta o secretário falou sobre melhorar a capacidade operacional do Lacen de Santa Catarina parar rodar os testes do tipo RT-PCR, o que depende de equipamentos:

    “Também estamos buscando através de outros equipamentos que nós temos que podem ser devidamente programados pra análise das amostras de coronavírus, que é o caso dos que estão localizados em algumas das regionais de saúde e aí sim nós teremos a capacidade para usar kits. Uma vez que isso esteja devidamente conduzido nós vamos procurar adquirir esse pacote de kits do país americano para que a gente possa aumentar a nossa capacidade. Mas isso é um problema que é também enfrentado pelos laboratórios privados”.

    O RT-PCR, utilizado para diagnosticar casos graves internados, necessita de exame em laboratório com uso de equipamentos. O teste sorológico, ou “teste rápido”, é para detecção de anticorpos (IgM/IgG) e pode ser feito até mesmo nos postos de saúde ou unidades volantes. Esse teste verifica a resposta do sistema imunológico ao vírus, mas é menos preciso.

    O Ministério da Saúde anunciou em 24 de março a distribuição de 22,9 milhões de kits de testes, dos quais 14,9 milhões do tipo RT-PCR e 8 milhões do tipo teste rápido (500 mil devem chegar na próxima semana). De acordo com o MS, dos 32 mil já distribuídos no país, 1.680 vieram para Santa Catarina.

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    Aumento de preços dos fornecedores

    Mas enquanto os governos têm poucos fornecedores a recorrer, há uma alta abusiva de preços, que está além do poder de autuação dos Procons.

    Segundo o secretário de saúde, uma das causas de menor oferta no mercado foi depois de o Ministério da Saúde detectar que haviam compras de insumos entre os estados. Dessa forma, o MS “tomou” para si a maioria dos fornecedores, centralizando as compras e reduzindo a oferta.

    Assim, os estados ficam em grande parte dependentes do fornecimento pelo governo federal. Municípios que queiram tomar suas próprias atitudes de controle, comprando testes, podem ter esse entrave.

    Diante do problema específico do coronavírus, Carlos Moisés disse nessa entrevista coletiva que “a crise é uma oportunidade de mercado para algumas pessoas”. Moisés e Zeferino relataram que, quando a pandemia iniciou no país, um ventilador para equipar uma UTI custava normalmente em torno de R$ 110 mil, passou a custar R$ 335 mil e, dependendo do equipamento, só há um fornecedor disponível.

    “Além da pandemia, esse é um dos nossos desafios. Você ser do setor público, ter que fazer uma compra por aquisição direta agora, você não tem tempo nem pra fazer licitação, porque não tem melhor preço também, e você descobre que um produto está sendo fornecido pelo dobro do preço que conseguia comprar antes. Se não pagar, você não vai ter leitos de UTI suficientes para atender a população de Santa Catarina. Então a noção de que a crise às vezes é uma oportunidade para algumas pessoas é o que tem acontecido. Às vezes é a pressão do mercado mesmo”, disse o governador.

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