Estado promete investigação que não fez em incêndios anteriores no Parque do Tabuleiro

    Terceiro grande incêndio na mesma área somente nesse ano faz administração acordar para ataques à unidade de conservação

    Incêndio no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro
    Incêndios criminosos são comuns no Parque da Serra do Tabuleiro, mas nem todos são investigados - Foto: CBM/Divulgação/CSC

    A atual gestão do governo do estado acordou para o problema dos ataques ao Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (Paest) após a ocorrência dessa semana repercutir. Esse, porém, foi o terceiro grande incêndio na mesma área e somente agora houve a determinação no topo da administração estadual para tomada de providência contra o crime ambiental.

    Em abril um incêndio foi provocado na área da restinga na Baixada do Maciambú, em momento de seca e vento forte, queimando cerca de 80 hectares. Em 2 de dezembro, no último dia do seminário ambiental do Paest, com seca e ventania, um foco foi iniciado em área de difícil acesso dentro de recuperação da restinga, chegou a 500m do Centro de Visitantes, fazendo chover fuligem no local durante o evento. Nessa ocasião, há 3 semanas, foram 150 hectares queimados.

    Em ambos os casos, de abril e início de dezembro, não houve ação governamental para encontrar os responsáveis. Não houve ação efetiva por parte da Polícia Civil ou comoção política com o assunto. A perícia oficial fez alguns levantamentos. Se o Corpo de Bombeiros Militar analisou possível causa da ocorrência, o relatório foi engavetado.

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    Por causa da aparente indiferença estatal (à exceção dos servidores da área ambiental) criminosos viram que há uma certa liberdade em colocar fogo na área sem que haja consequência. E é de grande probabilidade que sejam as mesmas pessoas que botaram fogo pelas características muito similares nos incêndios desse ano. Entre os trabalhadores que atuam no Paest há o entendimento de que os incêndios podem ser retaliação a projetos de recuperação ambiental e retirada de pinus.

    A última vez que a alta administração de SC havia entendido que há problema grave de ataque ao Paest foi em 2019, quando, após incêndio de mais de 1 mil hectares, foi criado o plano de contingência principalmente entre IMA, Polícia Ambiental e CBM, que evitou diversas outras queimadas propositais nos últimos anos virarem incêndios maiores. Ainda assim, nesse ano, o fogo também chegou perigosamente perto de casas e a fumaça também provocou interdição da rodovia de acesso às praias do Sul de Palhoça.

    Incêndio no PAEST em 1º de abril de 2023
    Em abril, fogo também chegou próximo às residências confrontantes com o parque na Baixada do Massiambú – Foto: PCI/Divulgação/CSC

    Agora a chave dessa gestão estadual parece ter virado. O governo do estado foi pego nessa semana de Natal em um momento sem grandes fatos ocorrendo no estado que pudessem eclipsar o crime ambiental, o que também explica o interesse como oportunidade de mostrar ao público que há movimentação.

    Os primeiros passos da investigação tardia mostrarão que há uma atividade de renda ilegal nessa área da unidade de conservação, com criadores de gados intocáveis dando ordens e em conluiou com os chamados “resineiros”, pessoas que extraem a resina dos pinus – árvores que impedem a regenaração das nativas e potencializam ainda mais os incêndios – e que são contra a retirada (solução) desse problema. A resina de pinus retirada do Paest por esse grupo é processada em empresa de Paulo Lopes. Há também a possibilidade de fogo para expandir construções.

    A virada de chave para a relevância do parque ainda não ocorreu na administração do município envolvido, que dá de ombros com o problema em área do Estado e deixa de fiscalizar o avanço das invasões clandestinas. Ainda que a prefeitura possa ter contribuido com compra de abafadores ou equipamentos em anos recentes, o poder público municipal vê a área de reserva nos cordões arenosos do Paest como um passivo ambiental, uma perda de espaço. Prova disso é a vontade política em rasgar a unidade de conservação integral (o “mato”) com uma estrada nova justamente nessa área.

    Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br

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