Repressão e presença do Estado

em uma quadra de ginásio, tropa de homens carecas usando armaduras pretas se ajoelha em formação

Enquanto a repressão ao crime aumenta, resultando em 50 pessoas mortas pela polícia, somente nos primeiros seis meses deste ano, as ações que, efetivamente, resultariam em redução gradativa da violência escasseiam. Iniciativas em Educação, Saneamento, Saúde Pública, Esporte, e até mesmo Limpeza Urbana passam longe dos discursos das autoridades. Ou são tímidos demais, insuficientes.

Quando, para combater a presença de usuários de crack num viaduto, a administração pública opta por inviabilizar sua presença tornando o local desconfortável, colocando pedras, vê-se, com desalento, que não existe real interesse em promover melhorias na qualidade de vida dessas pessoas, levando-as, aos poucos, a integrarem positivamente o tecido social. O motivo já é conhecido: qualquer ação deste tipo, diferente das iniciativas repressoras, demora bastante para surtir efeitos. Muito mais que um mandato de quatro anos. Não dá votos imediatamente. E votos, sabe-se, são o único alimento não-ilegal capaz de motivar políticos a direcionarem seus esforços em alguma direção.

Enquanto não pensarmos em aprovar, via pactos sociais, políticas “De Estado”, capazes de atravessar vários mandatos públicos sem que, a cada novo governante, sejam modificadas ou simplesmente abandonadas, pouco resultado se terá além da perpetuação da violência, do crime, da sujeira e da escandalosa desigualdade social que estamos vivendo.

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Mas, enquanto isso não acontece, o que colhemos é mais mortes e mais cadeias, onde descartamos o que é considerado por muitos idiotas e equivocados como lixo social. Esquece-se que, até mesmo o lixo, quando bem conduzido, pode ser reciclado e tornar-se importante, ajudando a construir um mundo melhor para todos.

Acumulando mortes

A morte do guri (sim, era praticamente uma criança) de 16 anos na Comunidade Chico Mendes desencadeou uma profusão de debates importantes na sociedade catarinense. De um lado, as forças de Segurança, procurando demonstrar que estão mais eficazes no combate à criminalidade. De outro, a população das próprias comunidades, apontando excessos na repressão e eventuais erros de julgamento, durante as ações das polícias. Ambos, aparentemente, estão certos em suas colocações, o que resulta no paradoxo, onde há excesso de violência, de ambos os lados, enquanto é flagrante a ausência do Estado na existência dessas pessoas que sobrevivem à margem dos benefícios da estrutura social.

Internet e eleições

Com a proximidade do prazo final para convenções partidárias, além de definirem-se os candidatos, começa a preocupação com a nova realidade das campanhas eleitorais. Além do tempo menor, de 45 dias (o que ainda não foi bem absorvido pela maioria dos políticos), poucos sabem como, efetivamente, transformar a presença na internet e nas redes sociais em votos. Tanto que a grande preocupação neste período ainda são as coligações capazes de somar tempo de televisão às candidaturas.

Me parece, no entanto, que a televisão, a cada eleição, vai perdendo espaço para as comunidades virtuais, onde o boca-a-boca é a forma mais eficiente de fazer chegar a mensagem aos eleitores. O novo canal é a internet. Agentes políticos, publicitários e marqueteiros batem cabeça há anos para descobrir a fórmula ideal para atingir a cabeça do eleitor. Por enquanto, a única coisa que aprenderam é que notícias falsas funcionam. Mau sinal.

Justiça para a justiça

14 procuradores do município de Florianópolis estão na mira do Ministério Público por irregularidades em suas contratações. São advogados que foram levados ao posto sem concurso público, através de atos de ofício cometidos por prefeitos, ao longo das cinco ou seis últimas administrações. Mais um capítulo, desta vez muito próximo à gente, dos efeitos nefastos da politização da Justiça, que fez, durante muito tempo e até o momento, vista grossa para a longa série de descompassos que assolam as instituições. Torço por mais choques de moralização como esse.

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